A capital etíope acolhe a 28ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA), um evento marcado pelo regresso de Marrocos, que deixou a então OUA há 33 anos, em protesto contra a admissão da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), proclamada pela Frente Polisário no Sahara Ocidental, um território que considera seu.
Nos últimos meses, o Rei Mohamed VI do Marrocos realizou várias viagens diplomáticas pelo continente para proclamar seu compromisso perante os seus irmãos africanos.
Nelas, houve promessas de mega-contratos, de trabalhar pela paz e pela segurança e de uma 'nova cooperação sul-sul.
Além disso, Rabat vem tentando convencer os outros países do continente da vocação subsahariana do país e da necessidade 'de recuperar o seu lugar no âmbito da família institucional continental', escreve a agência de notícias AFP.
O Marrocos abandonou a UA em 1984 em protesto contra a admissão da República Árabe Saharaui Democrática (RASD). O seu regresso continua ser um tema controverso no seio da UA.
A Argélia e África do Sul, dois membros influentes da UA, contestam ou são reticentes ao regresso. Efectivamente, ambos os países apoiam há tempos a luta da Frente Polisário, que reivindica a independência do Sahara Ocidental.
Segundo o analista político Gilles Yabi, radicado no Senegal, o tema agora é saber se o Marrocos será reintegrado e, ao mesmo tempo, se não vai excluir o Sahara Ocidental da UA.
Sobre esse ponto, completou, há divisões muito claras no seio da UA.
A correlação de forças no Sahara - onde há anos impera o status quo - beneficia o Marrocos. Já a Frente Polisário parece fragilizada após a morte do seu líder histórico Mohamed Abdelaziz, em Maio de 2016.
Hoje, o Marrocos não põe como condição a expulsão da RASD da organização continental, mas alega contar com o apoio de 40 países (dos 54) da União. Além disso, assegura respeitar totalmente o procedimento de adesão e declara estar 'confiante e sereno', segundo palavras de seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Salahedinne Mekouar.
O apoio financeiro prometido por Marrocos - a sexta maior potência económica do continente - deve ajudar a contribuir com o seu retorno à organização.
De acordo com a imprensa marroquina, 'não há a menor dúvida' de que 'o objectivo a médio, inclusive a curto prazo, é obter a exclusão da Polisário.
Ainda segundo os jornais, os saharauis poderiam ser tentados a provocar incidentes armados e perturbar o cenário imaginado por Rabat.
A cimeira da UA deverá também abordar as inúmeras crises que afectam o continente, como o caos na Líbia, os grupos extremistas no Mali, na Somália e na Nigéria, ou as tensões políticas na República Democrática do Congo.
Por fim, embora o tema não esteja oficialmente na agenda da Cimeira, a chegada de Donald Trump à Casa Branca deverá também ser o foco das conversas, segundo os observadores. Sua promessa de defender os interesses dos Estados Unidos levanta temores sobre sua relação futura com o continente africano.
Os Estados Unidos são um dos principais contribuintes na luta contra os islamitas radicais somalis Al-shebab. E a missão da União Africana na Somália já sofre uma redução de financiamento por parte da União Europeia.