O Papa Francisco encerrou a sua visita de quatro dias ao Mianmar com novo apelo ao respeito pelos direitos humanos, numa Missa com cerca de 1500 jovens, na Catedral de Rangum.
O pontífice desafiou as novas gerações de católicos a levar ao país a “paixão pelos direitos humanos e a justiça”.
“Não tenham medo de colocar perguntas que façam as pessoas a pensar! Gostaria de pedir-lhes que gritem, mas não com a voz; gostaria que gritassem com a vida, com o coração, de modo a serem sinais de esperança para quem está sozinho”, apelou ainda.
O Papa chegou ao Mianmar na segunda-feira, após uma viagem de quase 11 horas desde Roma, e encontrou-se nesse dia, em privado, com o Min Aung Hlaing, chefe do Exército de Mianmar, um apontamento que foi antecipado a pedido do responsável militar.
No dia seguinte, Francisco pediu respeito pelos direitos e a identidade de todos os grupos étnicos do Mianmar, no seu primeiro discurso oficial no país asiático, perante líderes políticos e diplomáticos.
“O futuro do Mianmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por todos os grupos étnicos e da sua identidade”, declarou, no centro de convenções de Nay Pyi Taw, capital administrativa da nação.
A Conselheira de Estado e chefe de Governo de Mianmar, Aung San Suu Kyi, agradeceu, por sua vez, a visita do Papa Francisco e disse que o executivo trabalha para a reconciliação nacional, com atenção às minorias.
Francisco tinha antes concedido uma audiência a 17 representantes de religiões presentes no país asiático, a quem pediu respeito pelas diferenças e rejeição de “colonizações culturais”.
Na quarta-feira, o Papa presidiu Rangum à primeira Missa pública da sua viagem ao Mianmar, que reuniu cerca de 150 mil pessoas, segundo as autoridades locais, para rezar pela paz e reconciliação.
“Pensamos que a cura pode vir da raiva e da vingança. Contudo, o caminho da vingança não é o caminho de Jesus, a estrada de Jesus é radicalmente diferente: quando o ódio e a rejeição o levaram à sua paixão e morte, Ele respondeu com perdão e compaixão”, afirmou.
A viagem prosseguiu perante o Conselho Superior Sangha dos monges budistas, o órgão que reúne representantes da comunidade religiosa que é maioritária no país asiático, com uma mensagem contra a intolerância religiosa.
“Se temos de estar unidos, como é nosso propósito, é preciso superar todas as formas de incompreensão, intolerância, preconceito e ódio”, disse o Papa, que ensinamentos de Buda e de São Francisco de Assis sobre a necessidade de superar o ódio com amor e perdão.
Francisco encerrou o terceiro de viagem ao Mianmar com um encontro no paço arquiepiscopal de Rangum, que reuniu os 22 bispos católicos do país asiático, elogiando o seu “compromisso em favor dos pobres”, “sem olhar a religião nem etnia”.
Num balanço da viagem, o porta-voz do Vaticano desvalorizou a ausência da expressão “rohingya” nas intervenções de Francisco, referindo que o Papa “não tem o poder de resolver todos os conflitos”.
Greg Burke falou numa viagem “histórica” para a comunidade católica e da crise humana “mito grave” que afecta os rohingya.
“Não se pode reduzir a viagem apostólica a uma questão política, a uma palavra que foi dita ou não. O Papa chama a atenção, procura ajudar e quem quiser perceber entende que o Papa fala em respeitar os direitos de todos, sem excluir ninguém”, acrescentou.
O Papa Francisco vai encontrar-se esta sexta-feira no Bangladesh, para onde parte hoje, com um grupo de refugiados rohingya, durante um evento inter-religioso pela paz em Daca.
Em declarações publicadas pela ‘Caritas Internationalis’, o arcebispo de Daca, cardeal Patrick D’Rozario, realça a expectativa em ouvir o Papa falar acerca da situação dos milhares de refugiados muçulmanos provenientes de Mianmar.