A Igreja Católica vai iniciar o ano de 2019 com a celebração do 52.º Dia Mundial da Paz, na qual o Papa alerta para uma política distante do “serviço à colectividade humana” que se torna “instrumento de opressão, marginalização e até destruição”.
Num documento intitulado ‘A boa política está ao serviço da paz’, Francisco reflecte sobre as “virtudes” e os “vícios” da política, e abre também uma janela de reflexão para os actos eleitorais que vão acontecer ao longo do novo ano.
No seu documento, o Papa aponta 12 vícios que actualmente retiram “credibilidade aos sistemas dentro dos quais ela se realiza, bem como à autoridade, às decisões e à acção das pessoas que se lhe dedicam”.
“Estes vícios, que enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social”, considera Francisco.
O Papa refere em primeiro lugar “a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas”.
Francisco prossegue depois com “a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo”.
A mensagem para a celebração de 1 de Janeiro de 2019 sublinha o impacto negativo que algumas decisões políticas têm tido ao nível da sustentabilidade do planeta, devido à “recusa a cuidar da Terra”, e à “exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato”.
O último “vício” político enumerado por Francisco remete para a crise migratória que rebentou nos últimos anos, devido a fenómenos como a guerra e o terrorismo, a perseguição étnica e religiosa, a pobreza e a desigualdade social.
Uma situação que, segundo o Papa, mostrou em vários casos, por parte dos Estados e dos seus políticos, “o desprezo” que reina para com aqueles “que foram forçados ao exílio”.
“O terror exercido sobre as pessoas mais vulneráveis contribui para o exílio de populações inteiras à procura duma terra de paz. Não são sustentáveis os discursos políticos que tendem a acusar os migrantes de todos os males e a privar os pobres da esperança”, adverte.
Francisco indica uma ideia-chave para tornar o momento das campanhas eleitorais e de ida às urnas como um verdadeiro motor de renovação e de mudança.
“Cada renovação nos cargos electivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constitui uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito”, sustenta.
Ao longo da sua mensagem, o pontífice reforça que “a política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem”, mas quando a prioridade é “a busca do poder a todo o custo” ela “leva a abusos e injustiças”.
Com efeito, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele e trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo”.
Recordando o centenário do fim da I Guerra Mundial, que tem vindo a ser assinalado este ano, Francisco avisa os políticos que “a paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo”.
“A escalada em termos de intimidação, bem como a proliferação descontrolada das armas são contrárias à moral e à busca duma verdadeira concórdia”, defende.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano.
Francisco vai presidir à Missa da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, na Basílica de São Pedro, pelas 10h00 (menos uma em Lisboa), seguindo-se a recitação do ângelus, ao meio-dia de Roma.