O antigo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos (Santa Sé), D. Angelo Becciu, reagiu em conferência de imprensa às acusações que levaram o Papa a pedir a sua renúncia, rejeitando qualquer crime financeiro.
“Parece-me estranho ser acusado (de peculato)”, referiu, numa conferência de imprensa que decorreu em Roma.
Esta quinta-feira, ao final da tarde, a Santa Sé informou em comunicado que o responsável renunciava ao seu cargo na Cúria Romana e aos “direitos ligados ao cardinalato”, sem adiantar os motivos da decisão.
Antes de ser nomeado para Congregação para a Causa dos Santos foi figura de destaque na diplomacia da Santa Sé, como substituto dos Assuntos Gerais do Secretário de Estado do Vaticano, cargo para o qual foi escolhido pelo Papa emérito Bento XVI.
O diplomata tinha sido ainda núncio apostólico em Angola e em Cuba; foi criado cardeal pelo Papa Francisco em 2018.
Os casos de renúncia às prerrogativas do cardinalato são raros: em 2015, o escocês D. Michael Patrick O’Brien abdicou dos direitos e prerrogativas do cardinalato (como a participação no Conclave para eleição de um novo Papa), após admitir ter cometido abusos sexuais; viria a falecer em 2018.
Já em 2018, o Papa Francisco suspendeu do exercício público do ministério o antigo arcebispo de Washington (EUA), D. Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais, aceitando a sua renúncia como membro do Colégio Cardinalício; em 2019, o Vaticano condenou-o à pena de “demissão do estado clerical”.
Em 2019, D. Angelo Becciu tinha rejeitado acusações de envolvimento em investimentos imobiliários da Santa Sé em Londres, alegadamente irregulares e actualmente sob investigação da Justiça do Vaticano.
Em declarações aos jornalistas, o responsável italiano admitiu hoje que houve a atribuição de um fundo de 100 mil euros à Cáritas da sua terra natal, na Sardenha, mas sustentou que a iniciativa visava responder à “emergência do desemprego”.
Angelo Becciu negou ter desviado verbas da Santa Sé, em particular do chamado ‘Óbolo de São Pedro’, o fundo da caridade do Papa, justificando os investimentos na capital de Inglaterra com a necessidade de fazer “crescer” um fundo próprio da Secretaria de Estado do Vaticano.
O responsável mostrou-se surpreendido com a decisão do Papa, que lhe retirou a sua confiança, falando num “mal-entendido”.
“Tornando-me cardeal, prometi dar a minha vida pela Igreja e pelo Papa. Hoje renovo a minha confiança”, acrescentou.
OC