A confederação internacional da Cáritas, com 162 organizações dos cinco continentes, denunciou hoje no Vaticano a “violência cega” contra os civis na guerra na Ucrânia.
“A guerra não é solução”, disse Aloysius John, secretário-geral da ‘Caritas Internationalis’, em conferência de imprensa.
O responsável falou em 82 dias de “pesadelo”, marcados pela violência e a incerteza para a população, antes de evocar a onda de refugiados e desalojados que a invasão russa provocou, desde o início do conflito, a 24 de Fevereiro.
“A rede da Cáritas tem estado na linha da frente, desde o início do conflito”, tanto na Ucrânia como em países vizinhos – Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, Roménia e Moldávia -, destacou Aloysius John, manifestando a sua preocupação com o “tráfico humano nas fronteiras”.
O secretário-geral da ‘Caritas Internationalis’ assinalou o impacto desta guerra sobre as populações mais pobres do resto do mundo, após a crise provocada pela pandemia.
Como exemplo, o responsável falou do aumento do preço do pão na Síria, onde esteve em visita, no mês de Março.
“Não haverá vencedores nesta guerra”, sustentou, convidando os responsáveis internacionais a não esquecer as outras “crises humanas” do mundo.
A presidente da Caritas Ucrânia, Tetiana Stawnychy, realçou que um terço da população deixou a sua casa “num período muito curto de tempo”.
“Ainda é só o começo”, afirmou, destacando que muitas pessoas continuam a fugir das zonas em guerra.
A responsável elogiou a “solidariedade” na Ucrânia, em resposta ao cenário de “caos, destruição, guerra”, sublinhando que “por trás de cada número, há uma pessoa”.
Tetiana Stawnychy lembrou o ataque contra instalações da Cáritas, em Mariupol, admitindo que há riscos associados à resposta humanitária.
“Procuramos, de forma geral, manter algum nível de segurança”, apontou.
Já o padre Vyacheslav Grynevych, secretário-geral da Caritas-Spes Ucrânia, começou por agradecer aos jornalistas por mostrarem a “verdade sobre o impacto da guerra”.
“As imagens da guerra vão ficar connosco para toda a vida”, assumiu.
Questionado sobre uma eventual viagem do Papa Kiev, o responsável admitiu que “não é fácil visitar a Ucrânia, neste momento”, agradecendo as manifestações de apoio de Francisco e da Santa Sé.
O sacerdote manifestou a sua preocupação com o impacto da separação das famílias, no pós-guerra, e as consequências do conflito no percurso educativo das novas gerações, que já tinha sido afectado pela pandemia de Covid-19.
“Não é possível ter um processo educativo normal”, advertiu.
O padre Vyacheslav Grynevych partilhou uma história sobre a organização espontânea dos grupos de pessoas que ainda estão a viver abrigadas em estações de metro, com pontos de distribuição para alimentos, medicamentos e mesmo para a projecção de filmes.
“Isto mostra a beleza da alma humana, que é muito flexível, perante a situação”, declarou.
O Papa recebeu este domingo os dois responsáveis da Cáritas na Ucrânia, para uma audiência que durou cerca de 30 minutos, na qual recebeu informações sobre a resposta ao conflito.
OC