O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não resistiu à pressão e anunciou, nesta quinta-feira (7), a renúncia ao cargo.
O Reino Unido acordou com a notícia de que Boris Johnson tinha caído em si, deixado o orgulho de lado e resolvido atender aos apelos de ministros, secretários e da maioria do povo.
Uma pesquisa mostrou que quase 70% das pessoas queriam que ele saísse logo.
“É claramente da vontade do Partido Conservador que haja um novo líder, eu concordei. Quero falar aos que votaram no nosso partido em 2019 - muitos votando nos conservadores pela primeira vez -, obrigado por esse mandato incrível”, disse.
As pessoas reagiram assim: “Tchau, Boris, ninguém vai chorar.” Em quase três anos, ele foi um acumulador de crises. Essa cena poderia ter acontecido em vários momentos, e só é realidade agora porque vários aliados se voltaram contra ele. A debandada nas últimas 48 horas foi fatal: mais de 60 integrantes do governo pediram para sair nesses últimos dias, entre ministros, secretários e assessores.
A gota d’água foi Boris ter indicado um deputado conservador a um cargo importante mesmo sabendo que havia denúncias de assédio sexual contra o parlamentar. Boris Johnson deixou assessores negarem que ele sabia das denúncias e só admitiu a verdade na terça-feira (5), quando não dava mais para continuar negando.
Nesta quarta (6), fez a turnê da crise. Passou o dia falando sozinho, sem muito apoio, definhando, enfrentando a oposição do próprio partido, visto com escárnio, sem saber o que dizer. Ficou insustentável.
“Nos últimos dias, tentei convencer meus colegas de que seria excêntrico mudar o governo agora. Mas, como vimos, o instinto de rebanho é poderoso, e, quando o rebanho se move, tudo se move. E, meus amigos, na política, ninguém é indispensável”, afirmou.
Boris Johnson agradeceu aos profissionais do sistema público de saúde. Disse que, em um momento crítico, de pandemia, esses profissionais ajudaram a prolongar o mandato dele. Entre os “orgulhos” que Boris diz carregar, ele citou a conclusão do Brexit - a saída do Reino Unido da União Europeia - e o que chamou de liderança britânica na reacção do Ocidente à agressão de Putin na Ucrânia.
No parlamentarismo, não é tão raro ver um chefe de governo renunciando. Foi o que Margaret Thatcher fez em Novembro de 1990, no terceiro mandato dela; Tony Blair, em 2007; em 2016, David Cameron; e três anos depois, Theresa May.
Esse 7 de Julho de 2022 fica marcado também pelo que Boris não disse. Nenhuma menção aos muitos erros cometidos.
“Eu sei que muitas pessoas que vão ficar aliviadas e, talvez, algumas ficarão decepcionadas. De qualquer forma, quero que saibam como estou triste por estar desistindo do melhor emprego do mundo”, disse Boris.
De fato, tem quem queira. Imediatamente começou a especulação sobre o provável sucessor ou sucessora. No portão do gabinete de governo, tinha até placa de casa de aposta, uma obsessão britânica.
Boris Johnson agora é interino. O primeiro-ministro segue no cargo até que o Partido Conservador escolha o novo líder ou a nova líder. Mas há um número crescente de parlamentares dizendo que ele tinha que sair já – deixar outro interino, renovando de vez os ares.
O líder da Oposição disse que Boris “não tem que se agarrar” ao cargo e que o Partido Trabalhista pode tentar tirá-lo antes.
“Ele impôs mentiras, fraude e caos ao país e nós estamos presos a um governo que não funciona, isso em meio a uma crise de custo de vida. Todos que sustentaram esse primeiro-ministro deviam se sentir absolutamente envergonhados”, afirmou.