Human Rights Watch (HRW), exortou a Tunísia nesta sexta-feira a pôr fim às "expulsões colectivas" de migrantes subsarianos que têm ocorrido nestes últimos dias rumo ao deserto, onde ficam abandonados ao seu destino.
De acordo com a ONG de defesa dos Direitos Humanos, centenas de migrantes vindos nomeadamente do Mali e da Costa de Marfim encontram-se actualmente numa situação difícil numa zona desértica do sul da Tunísia, junto à fronteira com a Líbia, para onde foram levados à força desde 2 de Julho pelas autoridades tunisinas, depois de terem sido expulsos de Sfax, no centro-leste do país, num contexto de fortes tensões com a população local.
Nestas terça e quarta-feira, abateu-se uma autêntica onda de violência em Sfax contra os migrantes, depois de um deles ter morto um habitante durante confrontos.
Sfax, segunda cidade do país, tem sido ultimamente palco de ataques contra os migrantes por parte de habitantes exasperados pela sua presença, sendo que muitos deles se instalam ilegalmente e a título provisório, na expectativa de atravessar o Mediterrâneo em direcção à Itália.
"As forças de segurança tunisinas expulsaram colectivamente várias centenas de migrantes e requerentes de asilo subasarianos, incluindo crianças e mulheres grávidas, desde o dia 2 de Julho de 2023, para uma zona-tampão remota e militarizada na fronteira entre a Tunísia e a Líbia", disse via comunicado a HRW referindo que "muitas pessoas deram conta de violências por parte das autoridades quando foram presas ou expulsas".
No seu comunicado, a HRW indica ainda que segundo os testemunhos que recolheu "várias pessoas faleceram ou foram mortas na zona fronteiriça entre os dias 2 e 5 de Julho", alegadamente "abatidas ou espancadas pelo exército tunisino ou a guarda". A ONG refere contudo não ter tido a possibilidade de confirmar a veracidade destas afirmações.
Ao exortar o executivo tunisino a "acabar com as expulsões colectivas e permitir o acesso humanitário urgente" a essas pessoas que têm "pouca comida e assistência médica", a Human rights Watch também reclamou que as autoridades "investiguem as forças de segurança envolvidas nos abusos e que as levem perante a justiça".
Esta situação acontece numa altura em que tem havido um discurso cada vez mais abertamente xenófobo no país. No passado mês de Fevereiro, o Presidente tunisino, Kaïs Saïed, qualificou a imigração clandestina de "ameaça demográfica" para o seu país.
Segundo estatísticas citadas pelos meios de comunicação social, a Tunísia conta cerca de 21 mil migrantes subsarianos, um terço dos quais em situação irregular.