A Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) deve iniciar hoje a divulgação dos resultados provisórios das eleições gerais na República Democrática do Congo (RDC). O anúncio foi feito por fonte oficial afecta à entidade organizadora das eleições gerais de quarta-feira, que se prolongaram até ontem em muitas assembleias de voto.
Em Kinshasa, enquanto os agentes eleitorais começaram a afixar os resultados nas assembleias, conforme prevê a lei, noutros locais, incluindo na capital, ainda não tinha arrancado a contagem dos votos.
A CENI reconheceu, por intermédio de um comunicado de imprensa, os atrasos que condicionaram o arranque da votação às 6h00 em algumas assembleias no país. Por essa razão, agravada pela chuva em Kinshasa e noutras regiões, funcionaram durante as onze horas legalmente estabelecidas, de modo a permitir a cada eleitor o direito constitucional de votar. Denis Kadima, presidente da CENI, garantiu, na noite de quarta-feira, em declarações à televisão pública, que as assembleias estariam abertas, sem precisar o número de áreas afectadas. Disse, porém, que pelo menos 70% dos eleitores conseguiram votar na data indicada.
O Jornal de Angola confirmou, no início da tarde, a afixação dos resultados nas áreas adjacentes às mesas de voto. Delegados de lista, observadores, jornalistas e muitos cidadãos, desde que apresentassem o cartão de eleitor, procuraram os melhores ângulos para certificarem os resultados em primeira mão. No Institut de la Gombe, assim como na maioria das demais assembleias, os dados da votação presidencial foram os primeiros a ser divulgados, seguidos sem muita diferença temporal das listas com a expressão da vontade dos eleitores para as eleições legislativas, presidenciais e conselhos municipais.
Distraída a olhar para as páginas com os nomes dos eleitores, dispostos por ordem alfabética nas paredes, Eduardo Mwanza, 33 anos, disse à nossa reportagem que só sairia do local depois da publicação de todos os resultados nas cerca de vinte mesas das duas assembleias do Institut de la Gombe. Mwanza fala fluentemente a língua portuguesa que aprendeu durante os treze anos que viveu em Angola. Exibe a "Carta de Temoins”, (Cartão de Testemunha) emitido pela CENI, presenciou o momento em que Martin Fayulu, muitos membros do governo, com destaque para Jean Pierre Bemba, ministro da Defesa, e artistas conhecidos votaram nas assembleias localizadas no centro político e financeiro de Kinshasa.
Eduardo Mwanza dormiu no local, onde também votou. Acompanhou a contagem dos votos, assinatura das actas e demais actos inerentes ao processo. Ao lado, com aspecto cansado, a jovem mãe, delegada de candidatos a deputados pelo círculo provincial, também não arreda pé. Dormiu em casa por causa do bebé que tinha ao colo, mas anotou no bloco todos os detalhes da votação. "Vamos esperar que tudo corra bem para abençoar o Congo e África. Precisamos de paz para criar tranquilamente os nossos filhos”, desabafou Nsimba Heléne.
Mesmo sem existirem sondagens fiáveis na RDC, as conversas sobre o processo eleitoral e a abordagem de analistas divulgadas pelos órgãos de comunicação social antevêem a vantagem de Tshisekedi em Kinshasa. Em outras assembleias percorridas pelo Jornal de Angola até às 15h00 deixam transparecer a preferência pelo candidato no poder.
No entanto, é prematuro fazer qualquer vaticínio, uma vez que as leituras podem ser totalmente diferentes noutros pontos do país, sobretudo no Alto Katanga, zona de grande influência do candidato Moise Katumbi. Outrossim, o facto de a eleição ter prosseguido até às primeiras horas de ontem nas assembleias que iniciaram a votação depois das 06h00 pode retardar a contagem de votos.
Candidatos da oposição exigem reorganização das eleições
Cinco dos 19 candidatos ao cargo de Presidente da República exigem a reorganização das eleições, devido às falhas que resultaram num cenário considerado caótico. Martin Fayulu, Denis Mukwege, Floribert Anzuluni, Nkema Lilo e Theodoro Ngoyi manifestaram a intenção através de uma declaração conjunta divulgada no dia das eleições.
Os signatários posicionam-se contra a extensão do período de votação para ontem, sublinhando que a Comissão Eleitoral Nacional Independente não está imbuída de poderes constitucionais e legais para tomar uma decisão de tamanha responsabilidade.
Os cinco apelam ao povo congolês, ao Governo, à União Africana, à SADC e à comunidade internacional a exigirem a reorganização de novas eleições que assegurem a criação de condições para que todos candidatos concorram em respeito ao princípio da igualdade. Por alguma razão não especificada, o multimilionário Moise Katumbi, principal adversário de Félix Tshisekedi, não subscreveu o documento.
A validação definitiva das eleições deve ser feita no dia 10 de Janeiro, pelo Tribunal Constitucional.