A Amnistia Internacional (AI) pediu que o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, pressione o líder da Líbia, Muammar Kaddafi, pelo fim imediato e incondicionado da violação dos direitos humanos que ocorre no país, em virtude da sua relação "estreita e duradoura" com o líder líbio.
O pedido foi formalizado hoje, numa carta do secretário-geral da organização, Salil Shetty.
No documento, ele pede também que Roma suspenda o acordo sobre imigração firmado em 2008 com Trípoli e, consequentemente, o fim das operações conjuntas com a Polícia líbia sobre o controlo dos fluxos migratórios para o litoral italiano.
Na carta, endereçada também ao ministros italianos dos Negócios Estrangeiros, Franco Frattini, e do Interior, Roberto Maroni, a organização internacional pede que o governo de Berlusconi também suspenda o fornecimento de armas, munições e veículos blindados para a Líbia até que não haja mais riscos de violações de direitos humanos.
O acordo migratório prevê que as forças de segurança de Kadhafi patrulhem a costa Mediterrânea para evitar que barcos levem imigrantes ilegais para a Itália.
No ano em que o tratado bilateral foi assinado, mais de 31 mil africanos entraram na nação europeia pelo mar. Após 2008, o número diminuiu 92 porcento.
No ano seguinte, a Amnistia Internacional denunciou que a Itália estaria a interceptar refugiados em águas internacionais e enviando-os, sem protecção, para a Líbia, onde os imigrantes sofriam maus tratos e eram obrigados a retornar ao seu país de origem.
De acordo com a entidade, entre 6 e 11 de Maio daquele ano, Roma teria interceptado cerca de 500 pessoas para a nação de Kadhafi.
Este é o segundo pronunciamento da organização internacional sobre a imigração ilegal para a Itália nas últimas duas semanas, quando uma multidão, principalmente tunisinos, atracou na costa sul do país europeu, respectivamente na ilha de Lampedusa.
O êxodo, iniciado em 10 de Fevereiro, após a crise política na Tunísia, já levou mais de 5.000 imigrantes à costa sul da nação de Berlusconi.
Em discurso transmitido pela emissora de TV estatal nesta terça-feira, Kadhafi disse que não irá deixar a Líbia, que é "a nação dos seus ancestrais", e irá morrer no "honrado solo do seu país".
"Muammar Kaddafi é o líder da Revolução, sinónimo de sacrifícios até o fim dos dias. Esse é o meu país, dos meus pais e meus antepassados", afirmou.
Durante o pronunciamento, e em meio a gritos e socos no pódio, ele prometeu ainda lutar contra os manifestantes que pedem o fim do seu regime e disse que irá "morrer como um mártir", já que abandonar o poder "não está entre as suas opções".
Vestido com um robe castanho e um turbante, ele discursou de um pódio colocado na entrada de um prédio bombardeado que aparentava ser sua residência em Trípoli - atingida por ataques aéreos dos Estados Unidos na década de 1980 e deixado sem reparos como um símbolo de desafio.
Kadhafi afirmou que não é o presidente da Líbia, mas sim o "líder da revolução" e que assim continuará, ignorando pedidos dos seus próprios diplomatas, soldados e manifestantes que, na última semana, tomaram as ruas para pedir o fim do seu regime.
Ele disse que "tem o direito de lutar pela Líbia". "Nós não insistimos em nada, a não ser lutar pelo bem da Líbia.
Passei a minha vida sem ter medo de nada. Eu devo permanecer aqui, desafiador", acrescentou.
O ditador ainda afirmou que Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, está a ser "aterrorizada". "Eles foram ao aeroporto, que foi destruído. Não há aviões a partir ou chegar de Benghazi. Não há aviões a chegar à Líbia."