O pintor angolano Hildebrando de Melo "HM" afirmou hoje, em Luanda, que o artista plástico moçambicano Malangatana, falecido quarta-feira, é uma das figuras incontornáveis daquele país do Índico e também mundial, tendo em conta a imensa obra deixada.
Em declarações à Angop, a propósito da morte do artista moçambicano, por doença, em Portugal, o pintor afirmou que "Malangatana é uma referência das artes plásticas africanas e internacionais, sendo igualmente um dos primeiros africanos a expor no Museu de Arte Contemporânea de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América (EUA)".
A sua morte, disse, deixa um vazio nas artes plásticas do Continente Africano, já que é daqueles pintores que fez parte dos movimentos revolucionários do seu país e, como tal, também teve um impacto a nível internacional.
"Ele é muito importante no revelo do tradicionalismo do seu povo, tendo catalogado, como ninguém, diversos momentos como a trajectória dos partidos Frelimo e Renamo", asseverou.
Hildebrando disse que os rituais tradicionais, como a iniciação, estão bem patentes nas obras de Malangatana, que afirma ter deixado um tributo aos mais jovens criadores, já que foi o mentor do movimento Movearte, assim como deixou uma fundação.
Malangatana Valente Ngwenya nasceu em 6 de Junho de 1936, em Matalana, povoação do distrito de Marracuene, às portas da então Lourenço Marques, hoje Maputo.
Foi pastor, aprendiz de curandeiro (tinha uma tia curandeira) e empregado doméstico. Começou a trabalhar como apanhador de bolas num clube de ténis, aos 11 anos, tendo estudado até a terceira classe.
Este artista, falecido aos 74 anos, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, Portugal, vítima de doença prolongada, trabalhou durante meio século a pintura, cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura.
Foi ainda poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado, da FRELIMO, partido no poder em Moçambique desde a independência.
Chegou a estar preso, pela PIDE, acusado de pertencer à FRELIMO, sendo libertado ao fim de 18 meses, por não se provar qualquer vínculo à resistência colonial.
Foi um dos criadores do Museu Nacional de Arte de Moçambique, dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador da UNICEF e arquitecto de um sonho antigo, que levou para a frente, a criação de um Centro Cultural na Matalana.
É autor de muitas exposições em Moçambique, mas também em Angola, Portugal, na Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Brasil, Cuba, Estados Unidos e Índia.
Tem murais em Maputo e na Beira, na África do Sul e na Suazilândia, mas também em países como a Suécia ou a Colômbia.
Contando com as obras em museus e galerias públicas e em colecções privadas, Malangatana vai continuar presente praticamente em todo o mundo, parte do qual conheceu como membro de júri de bienais, inaugurando exposições, fazendo palestras, até recebendo o doutoramento honoris causa, como aconteceu recentemente em Évora, Portugal.
Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu o prémio Príncipe Claus, e a medalha portuguesa.