Autoridades de Manica em "alerta vermelho" por causa de tráfico de órgãos

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As autoridades de justiça em Manica, centro de Moçambique, consideram "alarmante" a subida de casos de tráfico de pessoas e de órgãos humanos, o que coloca a província em "alerta vermelho", disse à Lusa fonte oficial.

 "A província de Manica apresenta um quadro negro no que se refere ao tráfico de pessoas. Esta situação constitui um alerta para todos da necessidade de assumir um papel proactivo na luta contra este mal", disse à Lusa Firmino Emílio, porta-voz da Procuradoria de Manica.

Estatísticas da Procuradoria indicam que este ano foram registados seis casos de tráfico de pessoas e de órgãos humanos, que já foram encaminhados para o tribunal. Dos processos que transitaram do ano passado, quatro foram julgados, dois dos quais com condenações, um absolvido e outro a aguardar sentença.

Entre os casos registados destaca-se o de extração de sangue e cérebro de uma criança em Mossurize, para posterior venda na África do Sul e a colocação de uma criança, raptada em Chimoio, à venda num mercado informal do distrito de Manica.

Em maio foram encontrados órgãos de vários bebés congelados numa residência na cidade de Chimoio, segundo escreveu em carta aberta o Instituto religioso de Moçambique ao Vaticano.

Um jovem foi posto inconsciente, através de ingestão de álcool, para depois ser degolado e um outro foi aliciado com emprego, por amigos, para ser vendido a um empresário.

"Este número (de casos) não é pouco. Existem várias formas que propiciam o tráfico. Há pessoas que entregam filhas para pagar uma dívida e outras ainda para contrair um empréstimo entre outras situações, sobretudo nas regiões fronteiriças", frisou Emílio.

Um relatório da UNICEF, de 2010, sobre tráfico de pessoas, confirma a existência de seitas religiosas que estão diretamente ligadas ao tráfico e constituem um crime organizado em Moçambique.

Em Manica as autoridades da justiça associam a intensificação de implantação de seitas religiosas com o aumento de casos de tráfico, sobretudo de crianças.

A Procuradoria indica que 250 seitas, oriundas do Zimbabué e África do Sul, países vizinhos de Moçambique, trabalham com crianças, que são casadas com pastores ou levadas para o exterior sem controlo.

"Estamos a investigar uma igreja a nível local e outras tantas a nível central, que desconfiamos estarem ligados a casos de tráfico", avançou à Lusa Firmino Emílio, que considera a prática destas igrejas de destruidora e desonrosa da fé e da crença.

Em declarações à Lusa, a governadora de Manica, Ana Comoane, chamou todas as esferas sociais e politicas a envolverem-se no combate ao tráfico de pessoas e de órgãos humanos "para que todos os instrumentos legais desenhados pelo governo surtam efeitos".

Lusa