As potências emergentes do grupo Brics discutiam nesta quarta-feira, no segundo e último dia de sua cúpula em Durban (África do Sul), os detalhes que permitirão tirar do papel um novo banco de desenvolvimento como alternativa ao Banco Mundial, e para financiar obras de infraestrutura.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul acertaram na terça-feira criar esta entidade financeira, mas ainda precisam limar certas divergências.
"O banco dirigido pelo Brics mobilizará a economia interna e fornecerá financiamento conjunto a infraestruturas em regiões em desenvolvimento", considerou nesta quarta-feira o presidente sul-africano, Jacob Zuma.
Mas o ministro de Comércio da África do Sul, Rob Davies, indicou que ainda eram negociados os detalhes do acordo. "Obviamente haverá um processo de implementação do resto dos detalhes", indicou em declarações à AFP.
As negociações prosseguirão em setembro na Rússia, paralelamente ao G20 previsto em São Petersburgo, afirmou o ministro das Finanças russo, Anton Silaunov.
A criação deste banco pretende estabelecer uma infraestrutura de empréstimos para projetos de desenvolvimento, em paralelo ao Banco Mundial (BM), principal ator neste campo há sete décadas.
Trata-se de um projeto-chave para o objetivo do Brics de construir alternativas para as instituições dominadas pelas potências ocidentais.
O BM disse na terça-feira que saudava a criação do novo banco e que estava pronto para trabalhar "estreitamente com esta nova entidade para terminar com a pobreza".
Em termos mais gerais, os Brics - que representam 25% da economia e 40% da população mundial - procuram aumentar a cooperação entre eles e ter mais influência internacional, refletindo os novos equilíbrios planetários diante de um ocidente afundado na crise econômica.
Zuma voltou a se referir nesta quarta-feira a um projeto de cabo submarino que permita transferir dados de banda larga do Brasil à Rússia através da África do Sul, Índia e China.
O presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, disse à AFP que também houve avanços nas negociações para criar um fundo comum que fomente o comércio, e que contaria com 100 bilhões de dólares.
Os acordos de swaps de divisas - que permitirão comercializar em moeda local, com a intenção de evitar a hegemonia do dólar - também abrirão as portas para os sócios da China tocarem em alguma porção dos 3,3 trilhões de dólares de reservas em divisas pertencentes à segunda economia mundial.
China e Brasil assinaram na terça-feira um acordo deste tipo (já delineado em junho) por 30 bilhões de dólares.
Para Tombini, este acordo será útil "em caso de turbulências nos mercados financeiros".
Estes fundos poderão ser utilizados para apoiar o comércio se os dólares começassem a escassear nos mercados e inclusive em casos de crise global, como a de 2008.
Os cinco países do grupo Brics também têm por objetivo criar uma agência de classificação, um mecanismo de resseguros, um conselho de empresários e uma classificação das Universidades.
No âmbito diplomático, os participantes da cúpula receberam um pedido do presidente sírio, Bashar al-Assad, de interceder para deter a violência que há dois anos atinge seu país. Grande parte dos países ocidentais e árabes reconheceram a oposição como representante legítima da Síria, afundada em uma guerra civil.
O presidente russo, Vladimir Putin, convocou o Brics, antes do início da cúpula, a "coordenar iniciativas para encontrar uma solução pacífica para a crise síria".
A sessão desta quarta-feira também será amplamente consagrada a discutir o desenvolvimento da África, que espera se beneficiar do dinamismo do Brics, embora com temores diante do poderio da China, frequentemente denunciada por impor condições de comércio com efeitos equiparáveis aos das velhas metrópoles coloniais.
A cúpula também abre espaço a encontros bilaterais, como o que será realizado no fim da tarde entre o presidente da China, Xi Jinping, e Dilma Rousseff.
AFP