Chegam todos os dias às centenas ao Níger. São refugiados que abandonaram tudo no Norte da Nigéria para escapar à barbárie do Boko Haram, um grupo radical que, em nome do Islão, quer proibir a educação nos moldes ocidentais.
“Fomos invadidos pelo Boko Haram. Escutei tiros e saí de casa. Vi dois cadáveres. Peguei na minha criança e fugi”, recorda Fanna, já a salvo, no campo de refugiados de Bosso, no Sul do Níger .
Em Janeiro, contabilizavam-se 153.000 nigerianos refugiados nos países vizinhos, 100 mil dos quais no Níger. O país mais pobre do mundo é o mais afectado pelo êxodo.
Esta semana, o Programa Alimentar Mundial (PAM), soou o alarme. A agência da ONU conta ter de socorrer mais de 230.000 pessoas, este ano, na região do Lago Chade.
“A situação é crítica e alarmante, se considerarmos que uma em cada duas pessoas que atravessam a fronteira está numa situação de insegurança alimentar e que uma em cada três crianças está malnutrida”, alerta um responsável do PAM no Níger, Antonio Avella.
Para enfrentar a barbárie, Níger, Benim, Camarões e Chade chegaram a acordo com a Nigéria para a criação de uma força militar regional com 8700 elementos. Missão: aniquilar o Boko Haram em seis semanas e pacificar a Nigéria antes das eleições legislativas e presidenciais, que foram adiadas para 28 de Março por causa da insegurança.
Entretanto, os fanáticos intolerantes do Boko Haram multiplicam os ataques nos países vizinhos da Nigéria e exército do Chade já teve de intervir nos Camarões, com sucesso.
“As nossas forças armadas estão sempre na linha da frente da defesa, seja qual for o inimigo. Estamos prontos a enfrentá-los. São uns reles bandidos, uns assassinos, uns trogloditas. É uma seita criminosa, não é um exército que respeita as convenções internacionais”, afirma o general chadiano Ahmat Dari Bazine.
É a barbárie, a selvajaria, o que faz a força do Boko Haram: o medo que incute. Repelidos de um lado, os rebeldes atacam noutro ponto. Perseguem o rasto dos refugiados. Sem trégua, alternam entre ofensivas armadas e a activação de células adormecidas. Foi o que aconteceu em Diffa, no Níger: em quatro dias, a cidade foi alvo de três assaltos e um atentado à bomba, num mercado repleto de inocentes.
Num vídeo de propaganda falaciosa, divulgado na segunda-feira, o líder dos energúmenos, Abubakar Shekau, goza com a coligação regional: desafia-a a realizar em seis semanas o que o poderoso exército nigeriano não conseguiu fazer em seis anos.
Desde 2009, a insurreição nascida entre jovens licenciados das elites islâmicas do Norte do país já matou mais de 13.000 pessoas e obrigou cerca de 1.500.000 de pessoas a fugir, só na Nigéria.