O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, renunciou nesta terça-feira (21), anunciou o presidente do Parlamento do país, Jacob Mudenda.
Numa carta de renúncia, Mugabe, que ficou no poder por 37 anos, disse que a sua decisão é voluntária. Com a notícia, pessoas foram às ruas do país para comemorar.
"Eu, Robert Gabriel Mugabe, entrego formalmente minha renúncia como presidente do Zimbábue com efeito imediato. Renunciei para fazer uma transferência de poder tranquila", afirmou o presidente de 93 anos, na carta.
O vice-presidente Emmerson Mnangagwa, demitido por Mugabe, deve assumir o poder no seu lugar ainda esta semana, disse o secretário jurídico do partido governista Zanu-PF.
A renúncia foi amplamente comemorada no Parlamento. O anúncio também foi imediatamente comemorado por um ensurdecedor concerto de buzinas na capital Harare. Alguns manifestantes já estavam na rua, pedindo a saída de Mugabe em frente ao Parlamento, que discutia o processo de impeachment. Também houve celebração no centro de Johannerburgo, na África do Sul.
Nesta segunda-feira (20), expirou o prazo dado pelo seu partido, a União Nacional Africana do Zimbábue - Frente Patriótica (Zanu-PF, na sigla em inglês), para que ele renunciasse e os parlamentares iniciaram o processo.
Após a entrega da carta, o processo de impeachment foi suspenso. Um porta-voz do Parlamento afirmou que trabalha em questões legais para garantir que o novo líder seja empossado até o final desta quarta-feira.
De professor respeitado, Mugabe se tornou um déspota obcecado pelo poder. Chegou ao poder em 1980, aplaudido como herói, após a guerra de independência do império britânico. Disse certa vez que iria governar o Zimbábue até os 100 anos.
Após o anúncio de renúncia, Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, do qual o Zimbábue foi colônia, disse que a decisão oferece uma "oportunidade de um novo caminho livre de opressão". "Como o amigo mais antigo do Zimbábue, faremos o que podemos para apoiar" a transição do país, acrescentou May em comunicado.
Os Estados Unidos disseram que se trata de um "momento histórico" e pediram "eleições livres e justas". "Esta noite marca um momento histórico para o Zimbábue. Quaisquer que sejam os acordos a curto prazo que o governo possa estabelecer, o caminho a seguir deve levar a eleições livres, justas e inclusivas", diz o comunicado da embaixada dos EUA em Harare.
A crise no Zimbábue começou no início da semana passada, quando militares informaram ter começado uma operação contra "criminosos" próximos ao presidente Robert Mugabe, tomando as ruas e assumindo o controle de prédios públicos e da TV estatal.
Isso aconteceu uma semana após Mugabe demitir o vice Emmerson Mnangagwa, que começava a despontar como seu possível sucessor. Mnangagwa foi demitido por deslealdade e sua saída foi vista como uma estratégia para conduzir a primeira-dama Grace Mugabe ao poder. Mnangagwa está na África do Sul e disse que não retorna ao país até que sua segurança esteja garantida.
Mugabe e a esposa chegaram a ficar confinados em sua mansão de luxo, conhecida como "Blue Roof", por imposição dos militares. No sábado, um sobrinho do líder havia dito que ele estava "pronto para morrer pelo que é correto" e não tinha nenhuma intenção de deixar o poder.
O partido Zanu-PF afastou Mugabe da liderança e o substituiu pelo vice demitido, Mnangagwa. Também estabeleceu um prazo, que terminou nesta segunda-feira, para que Mugabe deixasse o poder. Contrariando as expectativas, o presidente de 93 anos chegou a fazer um longo discurso na TV estatal ZBC (Zimbabwe Broadcasting Corporation), mas não anunciou a sua renúncia. Por isso, os parlamentares deram início ao processo de impeachment.