São várias as rádios católicas de expressão lusófona em África cuja missão é apoiada directamente pela Fundação AIS. A recente pandemia do coronavírus, que obrigou ao confinamento das populações em muitos países veio dar um relevo especial às rádios como meio de comunicação por excelência neste continente.
Guiné-Bissau, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique são países onde as rádios da Igreja têm vindo a receber apoio a nível logístico e até na produção de conteúdos por parte da Ajuda à Igreja que Sofre.
Exemplo desta cooperação é a rede Rádio Maria que congrega diversas estações em vários países de língua portuguesa, como é o caso, por exemplo, de Moçambique e Angola. Moçambique é, aliás, onde essa colaboração é mais extensa. São várias as rádios que beneficiam já da parceria com a Fundação AIS.
Ainda no início do ano, o Bispo de Tete esteve na sede da Fundação AIS em Telheiras, Lisboa, para apresentar um pedido de ajuda para a criação de uma emissora diocesana: a Rádio Muadia.
D. Diamantino Antunes explicou a escolha deste nome e a importância de haver uma rádio na sua diocese. “Muadia é o nome de uma canoa, um tronco escavado em forma de canoa e que é o meio de transporte mais comum no rio Zambeze. A nossa diocese é atravessada pelo rio. O próprio rio Zambeze divide a cidade de Tete em duas partes. É o meio de transporte e também de informação. Então, nós fizemos o pedido de partilha dos programas de informação produzidos pela AIS para nós retransmitirmos na nossa rádio diocesana.”
De facto, o programa de informação “Igreja no Mundo”, produzido semanalmente pela Fundação AIS em Portugal, é já partilhado com várias rádios em Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
Tal como pretende a Rádio Muadia, é possível já escutar conteúdos produzidos pela Fundação AIS na capital, Maputo, ou, por exemplo, em Quelimane. Em ambos os casos, são rádios afiliadas na rede Maria África.
Aquisição de equipamento técnico e de infraestruturas, meios de locomoção, produção de programas… são inúmeros os pedidos de apoio que ao longo dos anos têm sido submetidos pelas dioceses africanas à Fundação AIS procurando assegurar e dessa forma que as respectivas rádios continuam a emitir e a levar a mensagem da Igreja a todos os povos, a todas as pessoas. Mesmo as que vivem mais isoladas.
A missão da Igreja passa, em grande medida, pela existência destes postos emissores. Rafael D’Aqui, um dos responsáveis pelos projectos da Fundação AIS em África, sublinha a importância desta colaboração, “pois as rádios católicas têm uma importância fundamental” no continente africano.
A ausência de electricidade em muitos lugares faz com que, como recorda Rafael, “as pessoas tenham, normalmente, um radiozinho a pilhas em casa”. E isso ajuda a compreender como as emissões radiofónicas sejam tão relevantes não só ao nível da informação como para a evangelização.
Por isso, diz ainda este responsável, “ A Fundação AIS está, e esteve sempre, muito empenhada no apoio e colaboração com as rádios católicas”.
Exemplo disso, na Guiné-Bissau existe uma emissora com a chancela da Fundação AIS. Ainda recentemente, e por causa da pandemia do coronavírus, o Bispo de Bafatá, D. Pedro Carlos Zilli, explicou a importância da rádio diocesana na sensibilização das populações para enfrentar este grave problema de saúde pública. “A Igreja Católica, através da Caritas, das paróquias, tem feito um bom trabalho de sensibilização, de prevenção, de ajudar as pessoas. A rádio, a nossa rádio ‘Sol Mansi’, tem feito, graças a Deus, um bom trabalho nesse sentido…”
Um bom trabalho que obrigou até a aumentar o número de horas de emissão. O objectivo é duplo: conscientizar a população sobre as medidas a tomar para combater com eficácia a pandemia do coronavírus e prosseguir com o trabalho de evangelização.
Com as pessoas retidas em casa, a emissão da rádio tornou-se ainda mais preciosa. A Irmã Alessandra Bonfanti, uma das responsáveis por esta rádio em língua portuguesa, explicou à Fundação AIS como é importante esta missão. “Nos tempos actuais, é nossa missão agir como embaixadores da esperança numa sociedade que teme a pandemia. Temos que ajudar a continuar a alimentar as chamas da fé na esperança, a esperança de que o mundo volte ao normal se todos fizerem sua parte.”
A Rede Maria também já chegou a Cabo Verde. Com sede na Ilha de São Vicente, a Rádio Nova vai deixar de ser uma estação generalista passando a emissora confessional de forma a transformar-se num instrumento de evangelização para as Dioceses de Santiago e de Mindelo.
Também Angola tem projectos radiofónicos apoiados pela AIS. Em Fevereiro, Dom Estanislau Chindecasse, Bispo do Dundo, esteve na sede internacional da Fundação AIS, em Königstein, na Alemanha, em análise esteve a ajuda para as necessidades mais elementares para o trabalho da Igreja nesta diocese angolana. Abordou-se a necessidade de construção de infraestruturas, nomeadamente de um seminário, o apoio para a formação de sacerdotes e para a Rádio Ecclesia. Esta rádio católica só recentemente recebeu luz verde por parte do governo para emitir para todo o país mas ali, na diocese do Dundo, é preciso primeiro ultrapassar algumas dificuldades técnicas. “Já temos um lugar, já temos antena, mas ainda precisamos de apoio para que a rádio possa funcionar com toda a potência para chegar onde os padres, os missionários não chegam, ” O pedido ficou registado.
Por vezes, a Fundação AIS é chamada a ajudar ao nível técnico, na construção de infraestruturas, estúdios, antenas emissoras e até no apoio ao nível dos meios de transporte. Erguer uma rádio é uma tarefa complexa que, às vezes, pode ser destruída por um capricho da natureza. Foi o que aconteceu no ano passado, em Moçambique, após a passagem do devastador ciclone Idaí.
Com centenas de mortos, milhares de pessoas deslocadas, e um impressionante rasto de destruíção ninguém vai esquecer tão cedo a devastação causada pelo ciclone na diocese da Beira. Os prejuízos foram imensos e ainda hoje muito está por recuperar. Também a rádio local foi quase literalmente varrida pelo vento. As estruturas da Rádio Pax ficaram destruídas e as emissões comprometidas.
Para dar a volta a esta situação, o director da Rádio Pax contactou de imediato a Fundação AIS. Numa mensagem enviada para Lisboa, o padre Hugo Machado explicou de forma sucinta como o ciclone tinha sido devastador para a rádio. “Sofremos bastante. Todo o material ficou molhado e danificado. Os cabos rebentaram, as pequenas mesas de som estão molhadas. A nossa torre caiu e com ela caiu também o distribuidor, a sinalização, os cabos que saiam do estúdio de emissão para o centro emissor também estão todos quebrados.”
Para que a Rádio Pax pudesse voltar a fazer ouvir a sua voz era necessário praticamente tudo. Desde uma nova antena, a cabos, microfones, consolas, comutadores.
Na mensagem, o padre Hugo agradeceu a ajuda dos benfeitores da AIS para que a sua rádio pudesse voltar a fazer escutar a sua voz. “Precisamos reerguer-nos e pedimos a vossa colaboração e agradecemos desde já as ajudas que nos irão fazer chegar, através dos benfeitores e amigos da Fundação AIS. Estamos muito agradecidos pela vossa solidariedade e esperamos manter a nossa parceria connosco. Obrigado por tudo o que vão fazer por nós.”