O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela foi distinguido quarta-feira com o título Doutor Honoris Causa pela Universidade de São Paulo (USP), uma das principais instituições do ensino superior do Brasil.
"É um momento de grande emoção", disse Graça Machel, esposa do líder sul-africano, ao receber o título em nome de Nelson Mandela na cerimónia solene de entrega da distinção.
A activista moçambicana salientou que o "simbolismo" da homenagem da USP representa a "ligação entre dois continentes, dois países e duas vozes de autoridade no redesenho actual das relações internacionais".
"O desejo [de Mandela] nesse momento é que a juventude do Hemisfério Sul continue a luta para criar um mundo de igualdade", afirmou.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil (1995-2003), elogiou a iniciativa da USP, ao destacar a capacidade do líder sul-africano de convencer as pessoas.
"Mandela tem uma áurea, não é o que ele vai dizer que importa, é a própria pessoa dele que marca a diferença", afirmou Cardoso, na cerimónia.
A entrega da distinção a Nelson Mandela antecedeu a abertura de um seminário internacional sobre desenvolvimento sustentável promovido pelo Centro Ruth Cardoso.
Na palestra de abertura do seminário, Graça Machel disse que a sua actuação na defesa dos direitos das mulheres e das crianças "não foi uma opção intelectual, mas um compromisso de vida".
"Os indicadores actuais mostram que as mulheres e as crianças são as que ainda pagam o preço social mais elevado em África", afirmou.
A activista lembrou a sua infância pobre, a luta pela independência de Moçambique e a decisão de criar a Fundação de Desenvolvimento da Comunidade (FDC).
Graça Machel salientou que a FDC tem apoiado actualmente o desenvolvimento social "com base na transformação da vida" de diversas comunidades carenciadas de Moçambique.
"Muitas redes têm o apoio da FDC, é preciso multiplicar as vozes", sublinhou a activista ao lamentar que as mulheres africanas ainda sofrem "muitas formas de opressão e de discriminação".
Sobre Ruth Cardoso, Graça Machel disse que a antropóloga, falecida em 2008, "reinventou o papel de primeira-dama no mundo", com o seu trabalho em prol das comunidades carenciadas.
Durante o Governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Ruth criou o projecto Comunidade Solidária, um conjunto de acções para combater a pobreza e a exclusão social no Brasil.
Criado em 2009, o Centro Ruth Cardoso tem como missão preservar a memória e a obra académica e social da sua titular.