O mistério e a confusão imperam sobre a identidade do autor do filme que gerou violentos ataques contra representações dos Estados Unidos em vários países, em particular na Líbia, onde o embaixador americano foi morto.
O cineasta, que alega ter cidadania americana e israelense, se apresenta como Sam Bacile, mas decidiu permanecer oculto, segundo um colaborador, por temer por sua vida depois da explosão de violência provocada pelo filme de baixo orçamento "Innocence of Muslims" ("Inocência dos Muçulmanos"), que ridiculariza o profeta Maomé.
Na noite de quarta-feira, uma informação divulgada pela imprensa americana afirmava que um copta que vive nos subúrbios de Los Angeles, Nakula Basseley Nakula, era o proprietário da empresa produtora do filme e que ele já teve problemas com a justiça.
Documentos judiciais, dos quais a AFP obteve cópias, confirmam que Nakula Basseley Nakula foi condenado a 21 meses de prisão em 2010 por fraude bancária e que morava na localidade de Cerritos, ao sul de Los Angeles.
Na noite de quarta-feira, várias viaturas da polícia estavam estacionadas diante da residência de Nakula.
Dois oficiais da polícia permaneceram dentro da casa durante mais de uma hora e deixaram o local sem fazer comentários.
A família se recusou a falar com os jornalistas. Mas a porta de entrada da casa, ornamentada com duas janelas semicirculares, tem uma flagrante semelhança com uma porta que aparece em várias cenas do filme, do qual é possível assistir alguns trechos na internet.
Steve Klein, um consultor do filme, negou na quarta-feira o envolvimento de Israel na produção e afirmou que Sam Bacile - um pseudônimo, como admitiu - estava em choque com a morte do embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, durante o ataque ao consulado em Benghazi, onde morreram outros três americanos.
"Ele está desconsolado com a morte do embaixador", afirmou Klein à AFP, que disse ter conversado por telefone com Sam Bacile, mas que não sabia seu paradeiro.
Em uma entrevista ao Wall Street Journal na terça-feira, Sam Bacile chamou o islão de "câncer".
"Este é um filme político. Não religioso", destacou.
O 'cineasta' disse que fez o filme - no qual os actores falam inglês com sotaque americano e apresentam os muçulmanos como ignorantes e gratuitamente violentos - com 60 actores e uma equipa de 45 pessoas.
Mas a equipe do filme manifestou irritação na quarta-feira em um comunicado publicado no jornal Los Angeles Times.
"Todos os actores e toda a equipa estão irritados e têm a sensação de que foram explorados pelo produtor", escreveram.
"Estamos 100% contra este filme e fomos grosseiramente enganados sobre suas intenções e objetivos. Estamos chocados com o roteiro, que foi reescrito, e com as mentiras contadas a todas as pessoas envolvidas", completa a nota.
"Estamos profundamente entristecidos com a tragédia na Líbia e no Egipto", conclui o texto.
A actriz Cindy Lee García, que interpreta uma mulher cuja filha é proposta em casamento a Maomé, afirmou que ignorava que o filme era uma propaganda anti-Islão. Ela disse ainda que os diálogos foram redublados após as filmagens.
Segundo ela, "não havia nada sobre Maomé ou os muçulmanos" no filme que participou.
A dublagem é facilmente perceptível nos 14 minutos do filme divulgados na internet, onde as palavras são grosseiramente inseridas nas sequências.
Klein teme que o cineasta tenha o mesmo destino que o holandês Theo Van Gogh, que foi assassinado em 2004 depois de ter desencadeado protestos com um filme antimuçulmano.
"Se aparecer em público, tenho certeza de que será assassinado facilmente", concluiu.