O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu hoje aos países e seus líderes que não desistam da promessa de acabar com a pobreza, proteger o planeta e não deixar ninguém para trás…
Na apresentação do Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2024, Guterres exortou ainda os países a redobrar a aposta na aceleração dos ODS, num momento em que apenas 17% das metas estão atualmente no caminho do cumprimento.
"A conclusão é simples: O nosso fracasso em garantir a paz, em enfrentar as alterações climáticas e em impulsionar o financiamento internacional está a minar o desenvolvimento. Devemos acelerar a ação para os ODS – e não temos tempo a perder", frisou.
O Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2024, hoje divulgado pela ONU, indica que o mundo não está a cumprir as promessas dos ODS, frisando que menos de um quinto das metas está no caminho certo do cumprimento até 2030.
Faltando apenas seis anos para a sua data limite, o progresso atual está muito aquém do necessário para cumprir a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por todos os membros das Nações Unidas em 2015.
O relatório revela ainda que quase metade dos ODS obteve progressos mínimos ou moderados e mais de um terço estagnou ou regrediu.
"Este relatório é conhecido como boletim anual dos ODS – e mostra que o mundo está a ter uma nota baixa", disse hoje Guterres.
"Num mundo de riqueza, conhecimento e tecnologias sem precedentes, a negação das necessidades básicas para tantas pessoas é ultrajante e indesculpável. Ao mesmo tempo, temos o que é preciso para avançar rumo a um futuro melhor", lembrou.
Os impactos persistentes da pandemia da covid-19, a escalada dos conflitos, as tensões geopolíticas e o crescente caos climático prejudicaram gravemente o progresso, segundo o documento.
Entre as principais conclusões do relatório está o facto de que, pela primeira vez neste século, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita em metade das nações mais vulneráveis do mundo é mais lento do que o das economias avançadas, e quase 60% dos países enfrentaram preços dos alimentos moderados a anormalmente elevados em 2022.
Ao ritmo atual, uma em cada cinco crianças com menos de 5 anos será afetada por atrasos no crescimento em 2030.
Com base em dados recolhidos em 2022 em 120 Estados, 55% dos países não possuíam leis que proibissem a discriminação direta e indireta contra as mulheres.
Ainda de acordo com a ONU, os progressos na educação continuam a ser motivo de grande preocupação, com apenas 58% dos estudantes em todo o mundo a atingirem proficiência mínima em leitura no final do ensino primário.
De acordo com o relatório, mais 23 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema e mais de 100 milhões de pessoas adicionais sofreram de fome em 2022, em comparação com 2019.
Paralelamente, o número de mortes de civis em conflitos armados disparou em 2023, ano que foi também foi o mais quente já registado, com temperaturas globais a aproximarem-se do limite crítico de 1,5°C.
O relatório alerta ainda que as altas temperaturas recordes dos oceanos desencadearam um quarto evento global de branqueamento de corais.
Por outro lado, o desemprego global atingiu um mínimo histórico de 5% em 2023, apesar de persistirem obstáculos na obtenção de um trabalho digno, e, na área da saúde, o aumento do acesso ao tratamento evitou 20,8 milhões de mortes relacionadas com o vírus da SIDA nas últimas três décadas.
Entre as prioridades urgentes, a ONU identificou o financiamento para o desenvolvimento, uma vez que o défice de investimento nos ODS nos países em desenvolvimento é agora de quatro triliões de dólares (3,7 biliões de euros) por ano.
Numa perspetiva mais animadora, o relatório destaca alguns exemplos de sucesso e resiliência que podem ser aproveitados pelos países para avançar na concretização dos ODS, como os "notáveis avanços recentes na implantação de energias renováveis".
Além disso, na maioria das regiões do planeta, as raparigas alcançaram a paridade de género e até ultrapassaram os rapazes na conclusão da escolaridade em todos os níveis.
O aumento do acesso à internet em cerca de 70% em apenas oito anos também ilustra como é possível uma mudança transformadora rápida, segundo as Nações Unidas.
As deliberações na Cimeira incluirão a abordagem da crise da dívida que está a atrasar tantos países em desenvolvimento e a necessidade urgente de reforma da arquitetura financeira internacional.