A Coreia do Norte ameaçou esta sexta-feira abrir fogo contra o Sul se o Governo de Seul não impedir activistas de lançarem balões com mensagens anti-regime no seu território. Há meses que não era emitido um aviso tão duro por parte das autoridades de Pyongyang.
Se os panfletos chegarem ao solo norte-coreano como está previsto acontecer na segunda-feira, “um ataque militar impiedoso das unidades da Frente Ocidental será posto em prática sem aviso”, anunciou a agência oficial KCNA. Também será alvo das forças norte-coreanas uma zona turística próxima da cidade fronteiriça de Paju, a poucos quilómetros da zona desmilitarizada que separa os dois países.
“O Exército Popular Coreano nunca faz ameaças vãs”, disseram à agência comandantes militares.
Os activistas não se deixaram intimidar. “No ano passado recebemos ameaças semelhantes, e isso não nos deteve na altura, e não irá deter-nos agora”, reagiu Pak Sang-hak, um norte-coreano no exílio que há 12 anos fugiu para o Sul, citado pela Reuters. Pak é agora o líder da aliança de grupos de exilados norte-coreanos e activistas dos direitos humanos que pretende lançar em direcção ao Norte vários balões gigantes, com 200 mil panfletos, a criticar o regime de Kim Jong-un. Para além dos panfletos, chegarão também do ar algumas notas de um dólar.
A aproximação de eleições presidenciais na Coreia do Sul, em Dezembro, e os planos de preparação de mísseis de longo alcance por parte de Seul têm irritado Pyongyang e levado a uma escalada de comentários belicistas. O Governo sul-coreano anunciou manobras militares na próxima semana com a participação de 240 mil soldados de todos os ramos da Defesa, e ainda de forças norte-americanas.
O ministro sul-coreano da Defesa garantiu ao Parlamento que qualquer ataque será alvo de retaliação. “Se acontecer, haverá uma resposta perfeita contra a fonte do ataque”, declarou Kim Kwan-jin aos deputados.
O seu Exército ficou debaixo de críticas depois de não ter detectado um soldado norte-coreano que atravessou a fronteira altamente militarizada entre os dois países para ir bater à porta do quartel dos soldados. “
Não seria a primeira vez que o Norte lançaria um ataque ao Sul (os dois países continuam formalmente em conflito, uma vez que a guerra de 1950-1953 terminou apenas com um armistício, sem acordo de paz). Em Novembro de 2010, o Norte abriu fogo sobre a ilha sul-coreana Yeonpyeong, provocando mortes civis.
O país também foi considerado responsável pelo afundamento de uma corveta do Sul que terminou com a morte de 46 marinheiros, em Março do mesmo ano.
Na quinta-feira, o Presidente Lee Myung-Bak fez uma visita surpresa a Yeonpyeong. “Se a Coreia do Norte nos provocar, deveremos responder em força. Devemos defender [a fronteira marítima] até ao fim”, citou a AFP.
Neto de Kim Jong-il na televisão
O neto do “Querido Líder” Kim Jong-il, e sobrinho do actual chefe de Estado, Kim Jong-un, deu uma raríssima entrevista, a partir da Bósnia, onde está a estudar. Kim Han-sol, de 17 anos, afirmou a uma televisão finlandesa que gostaria de “tornar as coisas melhores” para o povo do seu país. “Sempre sonhei que um dia eu voltaria para melhorar as coisas e tornar a vida mais fácil às pessoas”, afirmou num inglês fluente.
Han-sol é filho de Kim Jong-nam, irmão mais velho do actual líder, que tem vivido em Macau e na China. Falou ainda dos seus sonhos de reunificação das duas Coreias. Contou que tem amigos sul-coreanos e que, apesar de ter sido estranho ao início, “pouco a pouco” começaram a entender-se. “Ao ter conhecido pessoas, conclui que devo ouvir as opiniões de ambos os lados, ver o que é bom e o que é mau, e tomar as minhas próprias decisões”.
Nunca pôde ouvir as opiniões do avô ou do seu tio porque nunca os conheceu. Mas descreveu, segundo a BBC, a sua infância passada na capital sobretudo em Macau e na China. Só percebeu quem era o seu pai depois de “montar as peças de um puzzle” à medida que foi crescendo. “Não sabia se ele sabia que eu existo”.