O vice-presidente sírio, Faruk Al-Shareh, pede uma solução negociada para a crise em seu país e afirma que o presidente Bashar al-Assad prefere a opção militar para esmagar a rebelião armada, em uma entrevista publicada nesta segunda-feira por um jornal libanês.
"(Assad) não esconde sua vontade de escolher a opção militar até a vitória final (e acredita que) depois o diálogo político será realmente possível", indicou Shareh em uma entrevista concedida no fim de semana passado em seu gabinete de Damasco ao jornal libanês pró-sírio Al-Akhbar, que a publicou integralmente.
"Os que têm a sorte de se reunir com o senhor presidente ouvirão de sua boca que se trata de um conflito longo e de uma grande conspiração tramada por várias partes", disse.
O vice-presidente sunita disse, pelo contrário, ser partidário de uma solução negociada.
"Nenhuma rebelião pode colocar fim à batalha com meios militares. Da mesma maneira, as operações das forças de segurança e das unidades do exército tampouco colocarão fim à batalha", assegurou.
Al-Shareh, considerado um possível substituto do presidente Bashar al-Assad em caso de transição negociada, pediu um acordo histórico entre as partes.
Segundo Al-Shareh, "Assad tem todos os poderes do país (...) Mas há opiniões e pontos de vista diferentes no comando sírio. No entanto, não se chegou ao ponto de falar de correntes ou divisões profundas".
É a primeira vez que um dirigente sírio de alto escalão fala sobre tais divergências de ponto de vista na liderança do Estado. Em um país autocrático como a Síria, significa que conta com apoios importantes para poder protestar assim.
"Existem na Síria instituições executivas, legislativas e jurídicas que dirigem os assuntos do Estado. Seus responsáveis trabalham, ou alguns deles reivindicam que trabalham segundo as ordens, e às vezes tomam decisões, mas apontando com o dedo para o retrato pendurado na parede do escritório, o que significa que a ordem é indiscutível", afirmou.
Em todos os gabinetes oficiais, há um retrato de Assad.
Al-Shareh, de 73 anos, foi durante 22 anos chefe da diplomacia síria, antes de se converter em vice-presidente. Desde o início da crise, em março de 2011, se ofereceu para servir de mediador, embora esteja dividido entre sua lealdade ao regime e seu apego a sua região natal de Deraa (sul), berço da rebelião.