O regresso dos jovens que foram combater para a Síria é um verdadeiro tema de debate na sociedade tunisina.
A Tunísia é o país que exportou mais combatentes para o jihad. Na maioria partiram sem avisar as famílias, como é o caso de Mohammed Bel Hadj Amor, que deixou o país em 2012, quando tinha 19 anos. A mãe só soube do seu paradeiro 13 meses depois quando o viu num documentário sobre a prisão onde estava detido com outros 42 tunisinos. “O meu filho é a mesma pessoa que era antes. Ele quer voltar para a Tunísia. Quer ganhar dinheiro para ajudar a família. Quer viver comigo. O meu filho foi-se abaixo quando ouviu que o pai tinha morrido. Ainda é jovem, foi explorado. Eu quero o meu filho de volta”, clama.
Como a mãe de Bel Hadj Amor são milhares as mães tunisinas que querem os filhos de volta, mas a questão divide a sociedade e as manifestações contra o regresso destes jovens, considerados como terroristas, repetem-se. O governo está a braços com um grande desafio entre a paz social e o perigo que significa o regresso destes homens treinados pelo Estado Islâmico (EI).
Boutheina Chihi Ezzine, uma das organizadoras dos protestos, justifica:
“Nós percebemos perfeitamente o sentimento destas mães que esperam o regresso dos filhos. Percebemos e estamos solidárias com elas, mas não estamos com os terroristas, com eles não podemos estar”.
Calcula-se que mais de 3000 jovens foram combater ao lado do Daesh, cerca de 1.250 estão impedidos de regressar e que milhares de outros são simpatizantes da causa extremista na Tunísia.
Mohammed Iqbel, responsável da Associação para o Resgate de Tunisinos Retidos no Exterior, que tenta ajudar as famílias dos que partiram combater, defende: “Há terroristas, há inocentes e há os que foram recrutados. É preciso classificá-los. Nós acreditamos que é preciso distinguir. Enquanto associação, nós não falamos de terroristas, não defendemos terroristas”.
Separar o trigo do joio é o grande desafio das autoridades de Tunis, tanto mais que a constituição permite o regresso de todos os tunisinos ao país, como explica Chafik Hajji, diretor geral dos assuntos consulares do ministério dos Negócios Estrangeiros: “O artigo 25° da Constituição diz que é proibido retirar a nacionalidade aos cidadãos tunisinos e não se pode impedir um tunisino de regressar ao país. Nós estamos a tratar este assunto com toda a seriedade e a responsabilidade que ele merece e, como já disse, o sistema legal tem a última palavra”.
Para que o sistema legal funcione, estes jovens, acusados de terrorismo, terão que ser julgados, mas a dificuldade está na falta de processos instruídos e de elementos que permitam avaliar os respectivos actos no estrangeiro: “Vamos julgar pessoas sobre processos a que não temos acesso, sobre crimes dos quais não sabemos quem fez isto ou aquilo em terreno sírio, porque não temos os processos”, diz Ridha Raddaoui, do Centro de Investigação e Estudo do Terrorismo da Tunísia.
Cerca de 800 tunisinos já regressaram ao país enquanto muitos se encontram ainda num verdadeiro limbo diplomático e jurídico. O governo, que tem as prisões sobrelotadas, diz que vai manter em detenção os mais perigosos e observar atentamente os outros.