“Finalmente nos encontramos!”. Assim como em Mianmar, foi com os jovens que Francisco concluiu sua visita a Bangladesh, a 3ª visita ao sudeste asiático.
O encontro estava marcado para o Notre Dame College, de Daca, fundado pela Congregação da Santa Cruz em 1949. Aberto a estudantes de todas as Confissões religiosas, a instituição transferiu-se para o bairro actual em 1954.
O Papa foi acolhido pelo encarregado da Pastoral Juvenil, o Bispo de Barisal, Dom Subroto Howlader CSC, pelo Reitor da Universidade e pelo Director da Escola Notre Dame, ambas mantidas pela Congregação da Santa Cruz.
Francisco abençoo a pedra fundamental do novo prédio “Notre Dame University Bangladesh” e uma placa comemorativa.
Sete mil jovens esperavam pelo Papa no campo desportivo da instituição. O palco, muito simples, foi montado com um material muito comum na região: o bambu.
Danças e cânticos de um coral receberam o Santo Padre, que. após ouvir testemunhos de dois jovens, dirigiu algumas palavras ao presentes em italiano, com tradução simultânea em bengali em um telão.
Ao dirigir-se aos jovens, agradeceu pelas palavras-chaves oferecidas em seus testemunhos, como “sabedoria” e “esperança”.
Ao comentar as palavras da jovem Upasana, Francisco referiu-se a um conhecido escritor bengalês, Kazi Nazrul Islam, que definiu a juventude do país como «arrojada», «habituada a arrancar a luz do ventre das trevas», observando:
“Os jovens estão sempre prontos para avançar, fazer com que as coisas aconteçam e correr riscos. Encorajo-vos a avançar com este entusiasmo nas circunstâncias boas e nas más. Avançar, especialmente nos momentos em que vos sentis oprimidos pelos problemas e pela tristeza e, olhando para fora, parece que Deus não Se faz ver no horizonte”.
Mas ao avançar – foi o seu alerta - “certificai-vos de escolher o caminho certo”. Mas, o que significa isto?, perguntou, respondendo:
“Significa saber viajar na vida, não vagar sem rumo. A nossa não é uma vida sem direcção; tem um objectivo, que nos foi dado por Deus. Ele guia-nos, orientando-nos com a sua graça. É como se tivesse colocado dentro de nós um software, que nos ajuda a discernir o seu programa divino e a responder-lhe livremente. Mas, como qualquer software, também este precisa de ser constantemente actualizado. Mantennham actualizado o vosso programa, prestando ouvidos ao Senhor e aceitando o desafio de fazer a sua vontade”.
O testemunho do jovem Anthony, ofereceu ao Papa “uma outra chave”, a palavra “sabedora”:
“Quando se passa do viajar ao vagar sem rumo, perdeu-se toda a sabedoria! A única coisa que nos orienta e faz avançar pelo caminho certo é a sabedoria, a sabedoria que nasce da fé. Não é a falsa sabedoria deste mundo. É a sabedoria que se vislumbra nos olhos dos pais e dos avós, que puseram a sua confiança em Deus.”
E é justamente esta sabedoria – disse o Santo Padre - que nos ajuda a identificar e rejeitar as promessas falsas de felicidade:
“Uma cultura que faz promessas falsas não pode libertar; conduz apenas a um egoísmo que enche o coração de escuridão e amargura. Pelo contrário, a sabedoria de Deus ajuda-nos a saber como acolher e aceitar aqueles que agem e pensam de forma diferente de nós. É triste quando começamos a fechar-nos no nosso pequeno mundo e nos retraímos em nós próprios. Então adoptamos o princípio «ou é como digo eu, ou não se faz nada», acabando enredados, fechados em nós mesmos”.
Quando um povo, uma religião ou uma sociedade se tornam um «pequeno mundo» - observou o Papa - perdem o melhor que têm e precipitam numa mentalidade presunçosa, que faz dizer «eu sou bom, tu és mau».
Neste sentido – explicou o Papa - “a sabedoria de Deus abre-nos aos outros. Ajuda-nos a olhar para além das nossas comodidades pessoais e das falsas seguranças que nos deixam cegos perante os grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna de ser vivida”.
Em um país onde os católicos são minoria, 0,2% da população, Francisco expressou a sua alegria pela presença no encontro de “amigos muçulmanos e de outras religiões”:
“Com o fato de vos encontrardes aqui hoje, mostrais a vossa determinação de promover um clima de harmonia, onde se estende a mão aos outros, apesar das vossas diferenças religiosas”.
A sabedoria de Deus ajuda-nos também a olhar para além de nós mesmos para intuir a bondade do nosso patrimônio cultural:
“A vossa cultura ensina-vos a respeitar os idosos. Como disse antes, os idosos ajudam-nos a apreciar a continuidade das gerações. Possuem a memória e a sabedoria feita de experiência, que nos ajudam a evitar a repetição dos erros do passado. Os idosos têm o «carisma de colmar as distâncias», assegurando que os valores mais importantes sejam transmitidos aos filhos e aos netos. Através das suas palavras, do seu amor, do seu carinho e da sua presença, compreendemos que a história não começou connosco, mas somos parte de um antigo «viajar» e que a realidade é maior do que nós”.
Falai com os vossos pais e avós – exortou Francisco - não passeis o dia inteiro com o celular, ignorando o mundo ao vosso redor!.
Por fim, o Papa fala de outra palavra presente nos dois testemunhos: a esperança:
“A sabedoria de Deus fortalece em nós a esperança e ajuda-nos a enfrentar o futuro com coragem. Nós, cristãos, encontramos esta esperança no encontro pessoal com Jesus na oração e nos Sacramentos, e no encontro concreto com Ele nos pobres, doentes, atribulados e abandonados. Em Jesus, descobrimos a solidariedade de Deus, que caminha constantemente ao nosso lado”.
“Ao despedir-me hoje do vosso país – concluiu o Papa - asseguro-vos a minha oração, para que todos possais continuar a crescer no amor de Deus e do próximo. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Isshór Bangladeshké ashirbád Korun [Deus abençoe o Bangladesh).