Até 2017, ele era considerado uma ameaça global. Aos 34 anos, Kim Jong-un se destacava pelo comportamento agressivo: foram ao menos dez lançamentos de mísseis e um teste nuclear, o sexto e mais potente já feito pela Coreia do Norte, no ano passado. A postura intimidadora, porém, mudou nos últimos meses, o que se reflecte no processo, iniciado em Janeiro, de aproximação das duas Coreias, e de acenos da Coreia do Norte aos EUA. O principal resultado da mudança de tom, até agora, pôde ser visto na manhã desta sexta-feira, na primeira cúpula entre os actuais líderes coreanos, em cuja abertura Kim prometeu “uma nova era de paz”.
Ao cruzar a linha de demarcação na vila de Panmunjom, na Zona Desmilitarizada que divide os dois países, Kim se tornou o primeiro líder norte-coreano a entrar no Sul desde a Guerra da Coreia (1950-1953). Conhecido por ordenar crimes bárbaros e violações de direitos humanos, ele adoptou um tom conciliatório com o Sul no discurso de Ano Novo e, dias depois, anunciou a retomada do diálogo com o vizinho. Ao assinar o livro de hóspedes na Casa da Paz, no lado sul-coreano, o ditador escreveu que “uma nova História começa agora”.
“ As expectativas são altas e aprendemos uma lição de outros tempos, e mesmo se tivermos bons acordos, mas implementações não ocorrerem, as pessoas ficarão decepcionadas”- disse Kim na abertura do encontro com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in.” Espero escrever um novo capítulo entre nós. Acredito que podemos fazer um novo começo, e é com este compromisso que venho a este encontro”.
A decisão de Kim de iniciar o processo de reaproximação veio após Moon sugerir o adiamento dos exercícios militares anuais com os EUA na Península Coreana para depois da Olimpíada de Inverno de PyeongChang, em fevereiro. A partir daí, a reaproximação com o vizinho do Sul se aprofundou, levando Kim a prometer abrir mão de seu arsenal nuclear caso obtenha garantias de segurança. Nesse curto período, pelo menos aos olhos do presidente americano, Donald Trump, Kim passou de “homenzinho do foguete” a um líder “muito honrável”. Nesta quinta-feira, quando o ditador partiu para a cúpula, a agência de notícias norte-coreana, KCNA, disse que ele discutirá “de coração aberto” com Moon “todas as questões envolvidas na melhora das relações intercoreanas e para alcançar paz, prosperidade e reunificação da Península Coreana”.
Para mostrar um lado mais brando, Kim também recorreu a duas mulheres em sua estratégia: sua irmã, Kim Yo-jong, e sua mulher, Ri Sol-ju. A primeira-dama, que recebeu tal título apenas este mês, passou a acompanhá-lo nos eventos públicos, incluindo a viagem à China. Já Yo-jong foi fundamental na visita ao Sul na Olimpíada de Inverno. Ambas estavam com Kim na cúpula.
A comitiva de Kim contou também com Kim Yong-chol, chefe da Inteligência militar, e o chanceler Ri Yong-ho. Já pelo lado sul-coreano, Moon terá a seu lado Suh Hoon, chefe do serviço de Inteligência, e Chung Eui-yong, conselheiro de Segurança Nacional.