A chanceler alemã Angela Merkel pediu antes de uma cúpula da União Europeia poderes centrais mais fortes para intervir quando Estados membros quebrarem regras orçamentárias e rejeitou exigências dos parceiros de Berlim para uma criação rápida de um supervisor bancário europeu.
Em um discurso para a Câmara dos Deputados horas antes de os líderes da UE se reunirem, a chanceler colocou-se em curso de colisão com o presidente socialista francês François Hollande e outros, que estão relutantes em ceder soberania sobre a política fiscal e querem que o BCE tenha novos poderes de supervisão até o final do ano.
"Somos da opinião --e eu falo por todo o governo alemão-- que podemos dar um passo além dando à Europa direitos reais de intervenção em orçamentos nacionais", disse ela, demonstrando apoio à ideia do ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, de um "comissário de assuntos monetários" europeu.
Sobre a supervisão bancária, ela disse que a qualidade tem que vir antes da velocidade, reiterando sua posição de que correr para cumprir a meta de janeiro de 2013 para dar ao Banco Central Europeu (BCE) novos poderes é uma receita para o desastre.
Merkel também deixou claro que canalizar ajuda diretamente aos bancos europeus a partir do mecanismo de resgate do bloco, o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (ESM, na sigla em inglês), pode não acontecer até que o novo órgão de supervisão esteja completamente operacional.
"Eu quero ser clara de que a conclusão do processo legal para a supervisão bancária não é suficiente por si só", disse ela. "Essa supervisão bancária deve ser capaz de funcionar e atuar efetivamente."
Depois do discurso, no qual Merkel reiterou seu desejo de manter a Grécia na zona do euro, seu principal opositor para a eleição do ano que vem, Peer Steinbrueck, do Partido Social Democrata, lançou um ataque sobre sua administração da crise.
"Foi um grave erro você permitir que sua coalizão iniciasse uma campanha de bullying contra a participação da Grécia na zona do euro. Você não interveio, você não defendeu a Europa e você vacilou", disse ele, enquanto batia o punho na bancada.
"Nem o (ex-chanceler conservador) Helmut Kohl ou qualquer outro antecessor teria permitido que um vizinho europeu fosse insultado por objetivos políticos domésticos como esses."
Merkel olhou fixamente para frente e não respondeu ao exaltado ataque.
Em seu discurso, ela disse que dar mais poder sobre orçamentos nacionais para autoridades europeias exigirá um reforço do Parlamento Europeu para fornecer legitimidade democrática total.
Ela afirmou que temores sobre "duas classes" na Europa não devem evitar uma discussão sobre limitar a participação em debates sobre questões aos 17 países no bloco monetário, em vez dos 27 membros da União Europeia como um todo no Parlamento.
Merkel também elogiou os esforços de Estados em dificuldade da zona do euro para cortar dívidas e déficits e melhorar a competitividade, e afirmou que havia sentido "um forte desejo de mudança" na Grécia em sua recente visita a Atenas.
Mas a chanceler disse que está nas mãos da Espanha decidir se irá buscar mais ajuda da zona do euro, depois de ter acertado o programa de 100 bilhões de euros para recapitalizar seus bancos.