A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cortou suas previsões para o crescimento global nesta terça-feira, alertando que a crise da dívida na zona do euro é a maior ameaça à economia mundial.
À luz do cenário econômico ruim, a OCDE pediu que os bancos centrais se preparem para mais afrouxamento monetário excepcional se os políticos não conseguirem dar respostas críveis à crise da dívida.
O órgão sediado em Paris, em seu relatório semestral Perspectivas Econômicas, previu que a economia global crescerá 2,9 por cento este ano, antes de expandir 3,4 por cento em 2013. A estimativa marcou uma forte queda desde a última projeção da OCDE em maio, de 3,4 por cento para este ano e de 4,2 por cento em 2013.
A zona do euro está enfrentando dois anos de contração econômica, enquanto os Estados Unidos correm o risco de entrar em recessão se os parlamentares do país não chegarem a um acordo para evitar uma combinação de aumentos de impostos e cortes orçamentários que entrarão, caso contrário, em vigor no ano que vem.
Desde que o impasse em Washington seja superado, a maior economia do mundo irá crescer 2,0 por cento no ano que vem, estimou a OCDE, cortando sua projeção de 2,6 por cento em maio.
"O abismo fiscal norte-americano é uma fonte muito importante de preocupação, mas o maior risco continua sendo a zona do euro", afirmou o economista-chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan, em entrevista à Reuters.
"A razão para isso não é apenas recessão, mas também o fato de que diferentes ciclos de política negativa entre dívida soberana, a situação bancária e riscos de saída permanecem. Portanto a região como um todo continua num estado de fragilidade."
Ao cortar suas estimativas, a OCDE prevê agora que a economia da zona do euro irá contrair 0,4 por cento este ano e outro 0,1 por cento no ano que vem, apenas retornando ao crescimento em 2014, com uma taxa de 1,3 por cento.
A OCDE alertou que condições financeiras divergentes dentro da união monetária europeia ameaçam dividi-la se as autoridades falharem em conter a crise da dívida.
"A zona do euro, que está testemunhando pressões de fragmentação significativas, pode estar em perigo", escreveu Padoan no prefácio do relatório, pedindo que os políticos superem os obstáculos sobre um único supervisor bancário liderado pelo Banco Central Europeu (BCE).
Dada a fraqueza das perspectivas da economia global, a OCDE alertou os governos sobre serem muito zelosos em seus apertos orçamentários e recomendou que Alemanha e China façam até mesmo estímulos temporários de gastos para reanimar o crescimento.
Apoio de bancos centrais
Com muitas das principais economias fraquejando, Padoan afirmou que seria prematuro para os bancos centrais tirarem da mesa qualquer medida de afrouxamento monetário neste momento.
"Eles devem estar preparados para fazer mais no curtíssimo prazo se as coisas se deteriorarem", disse Pardoan à Reuters.
Ele apontou o BCE como o primeiro candidato a tomar mais ação, dizendo que este tem escopo para cortar sua principal taxa de juros em 0,25 ponto percentual, da atual mínima recorde de 0,75 por cento.
O BCE deve também considerar estabelecer uma taxa de depósito negativa e enviar um forte sinal aos mercados sobre suas intenções de taxas de juros no longo prazo, afirmou a OCDE.
O banco central alemão tem sido um oponente declarado ao BCE tomar mais ações excepcionais para colocar a crise da dívida sob controle, em parte por causa de preocupações de que liquidez adicional pode impulsionar a inflação.
"Nós acreditamos que os temores de que liquidez excessiva pode alimentar a inflação no curto prazo são inapropriadas", disse Pardoan.