O escritor e jornalista guineense Tony Tcheka considera que se está a “silenciar os órgãos de comunicação social” na Guiné-Bissau com o corte das emissões da RTP e da RDP no país. Tony Tcheka alerta que se está a “intimidar os jornalistas” com vista a um eventual “golpe de Estado palaciano”.
A suspensão das emissões da RTP e da RDP na Guiné-Bissau é vista pelo escritor e jornalista guineense Tony Tcheka como uma forma de “silenciar os órgãos de comunicação social” porque “não há razões plausíveis” para essa decisão, temendo que venha a existir “um golpe de Estado palaciano”.
“Não há razões plausíveis. Se esses dois órgãos de comunicação tivessem tido um papel atentatório contra aquilo que são as leis magnas do país, aí podia-se dizer que há razões. Mas não há razões que não sejam, de facto, silenciar os órgãos de comunicação social, intimidar os jornalistas para que uma vasta campanha que está a decorrer e que poderá inclusive ter até um golpe de Estado palaciano - mesmo com convocatória de eleições mas umas eleições controladas e limitadas que não terão nada a ver com as últimas eleições que foram reconhecidas tanto internamente como externamente pelas organizações internacionais e pelas instituições guineenses como justas”, considerou o também vice-presidente da Associação de Escritores da Guiné-Bissau.
Na sexta-feira, o ministro da Comunicação Social guineense, Vítor Pereira, anunciou a decisão, justificando que o acordo de cooperação no sector da comunicação social assinado entre Lisboa e Bissau tinha caducado. Algo que o jornalista Tony Tcheka rejeita.
“A questão da caducidade não se coloca. É um acordo que já existe há muitos anos e tem vindo a funcionar. Estive a ler o acordo e não vi nenhum ponto que estabelecesse uma data limite para pôr termo ou para se poder considerar caducidade. O acordo que existe renova-se tacitamente e quando há quaisquer contribuições que queiram ser dadas ou quaisquer alterações ou melhorias nesse acordo, as partes são convocadas, reúnem-se e discutem”, explicou o jornalista.
Tony Tcheka aponta, ainda, que a decisão de cortar as emissões deve ser vista no contexto de um “governo de inspiração presidencial que pisou os resultados eleitorais” e argumenta que os jornalistas guineenses tiveram “críticas veladas do presidente da República para que não façam nada, não digam nada que possa denegrir a imagem do país”, algo que a seu ver “é de bradar aos céus” e um “atentado à liberdade de imprensa, uma forma de coarctar a informação e de intimidar a classe jornalística”.