Guiné-Conakry declara luto nacional de dois dias após a morte de mais cento e cinquenta cidadãos.

guine-conacry manifestacoes.jpgGuiné-Conakry declara luto nacional de dois dias após a morte de mais cento e cinquenta cidadãos.

O chefe da Junta militar no poder na Guiné- Conakry, capitão Moussa Dadis Camara, decretou luto nacional de quarta a quinta-feira, depois da repressão sangrenta da manifestação da segunda-feira última contra a sua eventual candidatura às eleições presidenciais de 2010.

Numa mensagem à nação, o capitão Camara convidou igualmente os imames e os padres do país a organizarem sexta-feira e domingo próximos sessões de orações e meditações em memória das mais de 150 pessoas mortas durante aqueles acontecimentos.

O Presidente autoproclamado da Guiné-Conakry assegurou que o seu Governo se comprometia a ajudar as famílias enlutadas e a elucidar estes eventos "susceptíveis de ameaçar a paz".


"Os autores destas desordens e os seus mandantes serão seriamente punidos", frisou.

Contudo, o chefe da Junta advertiu que qualquer aglomeração nas ruas estava proibida "até nova ordem" e avisou os líderes políticos e a imprensa a absterem-se de qualquer comentário sobre o assunto.

Segundo a Organização Guineense dos Direitos Humanos (OGDH), houve durante a repressão militar da manifestação de segunda-feira mais de 150 mortos e mais de mil 200 feridos, contra os 53 "mortos por asfixia na sequência de empurrões e quatro por balas" mencionados pelo Governo.

A manifestação foi organizada pelos líderes das forças vivas da nação guineense no Estádio de 28 de Setembro de Conakry para protestar contra uma eventual candidatura do capitão Moussa Dadis Camara às eleições presidenciais previstas para princípios de 2010.

Um dos líderes da oposição na Guiné- Conakry gravemente ferido nos incidentes violentos de segunda-feira foi impedido quarta-feira pela Junta militar de deixar o país para tratamento médico no estrangeiro, soube a imprensa de fonte familiar.

Segundo a mesma fonte, o ex-primeiro-ministro e actual líder da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), Cellou Dalein Diallo, pretendia embarcar para a capital francesa, Paris.

Ele foi entretanto obrigado a voltar ao seu quarto numa clínica da capital conakry-guineense, onde está hospitalizado sob guarda militar desde os acontecimentos de segunda-feira, de acordo com a fonte.

Cellou Dialo teria ficado com cinco costelas fracturadas durante a repressão sangrenta da manifestação popular de segunda-feira no Estádio 28 de Setembro de Conakry.

Patrulhas das forças da ordem prosseguiam quinta-feira em Conakry onde os serviços, os estabelecimentos comerciais, bancários e outros continuavam encerrados apesar duma retomada tímida da circulação dos táxis.

O Conselho Nacional para a Democracia e Desenvolvimento (CNDD, Junta militar) e o Governo pediram a criação duma comissão internacional de inquérito com o apoio das Nações unidas.

Eles pediram ainda a nomeação dum chefe de Estado africano na qualidade de medianeiro e a formação dum Governo de União Nacional com todos os partidos políticos até às eleições presidenciais de 31 de Janeiro de 2010.

Mas as forças vivas prometeram não participar num Governo de União Nacional e exigiram a demissão do capitão Moussa Dadis Camara que afirma "não controlar o Exército" .

O líder da Junta, que visitou os feridos num hospital de Conakry, assegurou que os tratamentos dos casos graves seriam garantidos pelos poderes públicos e que os líderes políticos seriam processados.

Segundo a Organização Guineense dos Direitos Humanos (OGDH), a repressão de segunda-feira última fez mais de 150 mortos e cerca de mil 500 feridos.

Estes números assemelham-se aos da manifestação de Janeiro de 2007 quando as forças da ordem dispararam balas reais contra manifestantes que exigiam a demissão do falecido Presidente Lansana Conté.

A Comissão da União Africana (UA) anunciou terça-feira, em Addis Abeba, estar a preparar novas sanções contra a Guiné-Conakry, na sequência dos actos de violência que fizeram vários mortos entre civis segunda- feira em Conakry.

Segundo um comunicado de imprensa, o Conselho de Paz e Segurança da UA (CPS) indicou que as forças de Defesa e Segurança conakry-guineenses reprimiram violentamente, a 28 de Setembro corrente, uma manifestação pacífica organizada pelo Fórum das Forças Vivas, no Estádio de Conakry.

A Comissão anunciou igualmente que iria iniciar consultas imediatas com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e com os membros do Grupo Internacional de Contacto sobre a Guiné-Conakry (GIC-GC) e com outros parceiros da UA a fim de coordenar as reacções a estes incidentes.

Fontes próximas da UA declararam à PANA que o CPS realizaria, se possível quinta-feira, uma reunião sobre a situação na Guiné-Conakry no termo da qual seria divulgado um comunicado oficial relativo às sanções.

A Comissão da UA condenou com firmeza o incidente de Conakry, qualificando a reacção violenta das forças de segurança contra civis desarmados de "violação grave dos direitos humanos".

A Comissão advertiu que iria tudo fazer para que os autores destes actos sejam responsabilizados e prestem contas pelos seus actos.

O presidente do Conselho Nacional para a Democracia e Desenvolvimento (CNDD, Junta militar), Moussa Dadis Camara, prometeu recentemente à UA e à CEDEAO restabelecer a ordem constitucional na Guiné-Conakry e as duas organizações decidiram conceder-lhe o seu apoio.

A 18 de Setembro último, o CPS deu um mês ao presidente do CNDD para confirmar que ele e o seu primeiro-ministro não se candidatariam às próximas eleições presidenciais.

O CNDD tomou o poder na Guiné-Conakry na sequência dum golpe de Estado perpetrado a 23 de Dezembro de 2008, após a morte do Presidente Lansana Conté.