Bento XVI disse numa entrevista inédita que o atual momento histórico representa uma “nova primavera” para o Cristianismo e que o futuro da Europa depende do respeito pelas suas raízes culturais e religiosas.
O Papa é um dos líderes cristãos que dão o seu testemunho no filme ‘Bells of Europe’ (Sinos da Europa), realizado pelo Centro Televisivo do Vaticano e apresentado esta segunda-feira aos participantes no Sínodo dos Bispos.
“A primeira razão da minha esperança está no facto de o desejo de Deus, a busca de Deus, estarem profundamente inscritas em todas as almas humanas e não pode desaparecer”, refere Bento XVI, numa intervenção antecipada pelo portal de notícias do Vaticano.
O Papa sustenta, por isso, que o ser humano se colocará sempre “em caminho para este Deus”, mesmo que o possa esquecer durante algum tempo.
A entrevista aborda ainda o papel da Europa no mundo de hoje, com Bento XVI a reconhecer que o continente tem “um grande peso, económico, cultural e intelectual”, o que implica também uma “grande responsabilidade”.
“O problema da Europa em encontrar a sua identidade parece-me consistir no facto de termos duas almas: uma alma e razão abstrata, anti-histórica, que pretende dominar tudo”, e outra que se pode “chamar cristã, que se abre a tudo o que é razoável”, indicou o Papa.
Neste contexto, Bento XVI critica as tentativas de desvalorizar “as tradições e valores culturais” do Velho Continente, em particular as suas raízes cristãs, como aconteceu com as tentativas de proibir a presença de crucifixos em espaços públicos.
“Assim não se pode viver”, declara.
O Papa observa que num mundo cada vez mais plural, só “uma razão que tem identidade histórica e moral” pode dialogar com as outras e promover uma “interculturalidade em que todos possam entrar e encontrar a unidade fundamental dos valores que podem abrir caminhos ao futuro, a um novo humanismo”.
Bento XVI defende, por outro lado, que as ideologias têm “um tempo limitado” e que o Evangelho, pelo contrário, “não envelhece” porque é a verdade.
A entrevista fala ainda da “inquietação” sentida pelas novas gerações, que segundo o Papa já se aperceberam do “vazio” das ofertas de vários ideologias e do consumismo.
O filme apresenta ainda depoimentos dos patriarcas ortodoxos de Constantinopla (atual Istambul), Bartolomeu I, e de Moscovo, Cirlio I, bem como do arcebispo da Cantuária (Igreja Anglicana), Rowan Williams, e outras personalidades da política e da cultura.
AE