A mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, divulgada hoje pelo Vaticano, critica quem defende que “o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado”.
Além da diminuição do papel dos organismos estatais no apoio às pessoas mais desfavorecidas, “as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública”, a mesma atitude para as “redes de solidariedade da sociedade civil”, sublinha Bento XVI no texto a que a Agência ECCLESIA teve acesso.
“Há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos”, frisa o papa no documento intitulado “Bem-aventurados os obreiros da paz”, frase atribuída a Jesus no evangelho segundo São Mateus.
O Papa declara que deve continuar a ser encarado como “prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos”, um dos “direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados”.
Bento XVI apela ao surgimento de “um novo modelo de desenvolvimento” e uma “nova visão da economia”, já que a orientação que “prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa ótica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade”.
O “obreiro da paz” exerce a “atividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras”, sustenta o Papa.
O texto vinca que é “imprescindível” a “estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial, que devem ser “melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres”.
O documento apela a uma maior “determinação” na resolução da “crise alimentar, muito mais grave do que a financeira”, causada por “bruscas oscilações do preço das matérias-primas agrícolas com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional”.
“O papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político”, é igualmente realçado na mensagem para o 46.º Dia Mundial da Paz, que se assinala a 1 de janeiro.
Para o Papa “a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização”.
“Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida”, desde “a conceção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural”, acentua Bento XVI ao mencionar o “aborto” e a “eutanásia”.
Segundo o Papa “estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa” mas são “reconhecíveis pela razão” e, por isso, “comuns a toda a humanidade”.
Uma “condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem”, salienta.