Milhares de cristãos católicos e ortodoxos do rito bizantino celebram esta segunda-feira o nascimento de Jesus, em diversas regiões do país, seguindo o calendário introduzido no ano 45 a.C. pelo imperador romano Júlio César.
Depois de um período de 40 dias de jejum, iniciado a 28 de novembro, cerca de 60 mil imigrantes ucranianos, em sintonia com outras comunidades vindas da Europa de Leste, de países como Rússia, Geórgia e Roménia, entram esta noite num espírito de “alegria e comunhão”, disse à Agência ECCLESIA o coordenador da capelania nacional ucraniana em Portugal, padre Ivan Hudz.
Segundo o rito bizantino ou oriental, “à primeira estrela da noite” de 6 de janeiro, as famílias reúnem-se nas suas casas, à volta da mesa de jantar, antes de seguirem para a missa vespertina.
A ementa, onde não pode entrar nenhum tipo de carne ou gordura animal, é composta por 12 pratos que aludem aos 12 apóstolos de Jesus e às 12 tribos de Israel, um número que na Bíblia está associado ao conceito de plenitude.
Em vez do bacalhau, que faz parte da tradição portuguesa desta quadra, o prato principal é o "kutia", doce à base de trigo cozido com mel e sementes de papoila moída, ingredientes usados na doçaria oriental e que também têm um significado especial.
Após o jantar, a família junta-se na Igreja mas “não arruma a mesa”, pois, segundo a tradição, “os defuntos aparecem à família”, explica o padre Ivan Hudz, sublinhando a memória aos falecidos que os cristãos ortodoxos fazem nesta noite.
As diferenças estendem-se da gastronomia à espiritualidade, já que a celebração eucarística de rito bizantino é mais longa, quase toda cantada e os padres estão separados da assembleia para sublinhar a distinção entre as realidades celestes e terrenas.
Por outro lado, enquanto a tradição cristã ocidental privilegia o nascimento de Jesus, a 25 de dezembro, as igrejas orientais realçam a sua epifania ou manifestação aos povos, festa que no calendário liturgico da Igreja Católica Romana se celebra no segundo domingo a seguir ao Natal.
Apesar destas diferenças, o coordenador da capelania ucraniana em Portugal, padre Ivan Hudz, que trabalha há 10 anos na região do Alentejo, tem encontrado muitos exemplos de unidade entre cristãos do rito bizantino e ocidental.
“Eu já celebrei o Natal segundo o rito latino e muitos ucranianos que estiveram aqui também participaram nas celebrações de dia 24 e 25 de dezembro, partilhando esta alegria com colegas e amigos portugueses, com quem trabalham”, salienta aquele responsável.
“Geralmente, ninguém trabalha nesse dia e os patrões (em Portugal) respeitam a nossa tradição”, assinala o sacerdote, referindo que segundo as estatísticas dos Serviços Estrangeiros e Fronteiras (SEF) estão em Portugal cerca de 40 a 60 mil ucranianos a trabalhar.
As celebrações vão decorrer nas dioceses onde se encontram “capelães que acompanham os imigrantes”, não estando por isso, marcada nenhuma celebração nacional.
O rito bizantino é uma das liturgias da Igreja Católica, embora seja menos conhecida pelos fiéis do Ocidente.
O nome advém de Bizâncio, cidade localizada na atual Turquia, que, sob a denominação posterior de Constantinopla (hoje Istambul), tornou-se a capital do Império Romano do Oriente e pólo de expansão do cristianismo.