O Papa Bento XVI assegurou que renunciou "em plena liberdade, para o bem da Igreja”. Fez esta declaração no início da audiência pública de quarta-feira, a primeira aparição depois de anunciar a sua renúncia.
Aplausos estrondosos, cânticos, um ambiente festivo: na primeira aparição pública desde que anunciou que tinha renunciado à liderança da Igreja Católica, o Papa Bento XVI deu nesta quarta-feira a benção a milhares de pessoas que foram recebidas na sala Paulo VI, no Vaticano.
As máquinas fotográficas dispararam quando Bento XVI entrou na sala, poucos minutos depois da hora marcada (10h30), e o entusiasmo aumentou quando abriu os braços. Bento XVI repetiu a mensagem que tinha anunciado na segunda-feira, a de que renunciava “em plena liberdade para o bem da Igreja”.
Sentado, a ler o discurso, o Papa disse que tinha tomado a decisão “depois de ter orado muito” e “de examinar” a sua “consciência diante de Deus”. Interrompido por vezes com palmas da audiência, acrescentou: "Estou consciente da importância deste acto, mas também consciente de não ser capaz de levar a cabo o ministério de Pedro com a força física e espiritual que o requer.”
Seguiu-se a mensagem da Quaresma, que começa nesta Quarta-Feira de Cinzas, os 40 dias de preparação para a Páscoa que “nos recordam os dias o que Jesus passou no deserto, sendo então tentado pelo diabo para deixar o caminho indicado por Deus Pai”. Ao longo de pouco mais de uma hora, jovens do Brasil, Estados Unidos, Alemanha, México, Bélgica foram ouvindo o Papa repetir a mensagem em cada uma das suas línguas.
De Portugal, estavam alunos do Colégio Maristas de Carcavelos, que estão em viagem cultural por Itália. A audiência já fazia parte do roteiro, mas “teve outro impacto porque se calhar é a última”, diz a estudante Mariana, 15 anos, católica.
“Nunca o tinha visto ao vivo, é diferente da imagem. A forma de se expressar...” Humildade foi uma das características que notou de diferente. Como é que notou essa humildade? “Talvez quando aplaudimos e festejamos ele é sereno.”
Mariana emociona-se quando fala do simbolismo do momento e de conseguir ver o sumo pontífice: “O Papa é o mais próximo de Deus”. Agnóstica, Patrícia, 16 anos, olha para o Papa como “um símbolo de poder”, e isso suscita-lhe curiosidade. De qualquer forma, o facto de Bento XVI ter renunciado foi uma maneira de mostrar que não tem de estar no cargo “até à morte”.
Mais entusiasmada com o momento, Mariana comenta o facto de estar em Roma nesta altura: “O meu professor disse que não havia coincidências, mas ‘deusicidências’. Isto foi uma deusicidência, uma coincidência criada por Deus.”
A audiência desta manhã foi o primeiro dos próximos momentos de exposição pública do Papa. Para a tarde, está marcada uma missa na Basílica de São Pedro.