Durante a oração mariana do Angelus, perante uma imensa multidão reunida na Praça de S. Pedro, o Papa comentou o Evangelho deste 3°domingo comum que conta o início da vida pública de Jesus nas cidades e aldeias da Galileia. A sua missão, disse o Papa Francisco, não parte de Jerusalém, do centro religioso, social e político, mas de uma zona periférica, desprezada pelos judeus mais observadores, por causa da presença de diferentes populações naquela região, indicada pelo profeta Isaías como "Galileia dos gentios" .
É uma terra de fronteira, uma zona de trânsito, onde se encontram pessoas de diferentes raças, culturas e religiões. A Galileia torna-se assim o lugar simbólico para a abertura do Evangelho a todos os povos. Sob este ponto de vista, a Galileia se parece com o mundo de hoje: coexistência de diversas culturas, necessidade de confronto e de encontro. Também nós estamos imersos todos os dias numa "Galileia dos gentios" e, neste tipo de contexto, nos podemos assustar e ceder à tentação de construir recintos para estarmos mais seguros, mais protegidos. Mas Jesus nos ensina que a Boa Nova não está reservada a uma parte da humanidade, deve-se comunica-la a todos. É uma boa notícia destinada a todos os que esperam por ela, mas também para aqueles que talvez já não esperam em nada e nem sequer têm força para procurar e pedir.
Partindo da Galileia, continuou o Papa, Jesus nos ensina que ninguém é excluído da salvação de Deus, antes pelo contrário, que Deus prefere partir da periferia, dos últimos, para alcançar a todos. Ele nos ensina um método, o seu método, que porém exprime o conteúdo, ou seja, a misericórdia do Pai. "Cada cristão e cada comunidade poderá discernir qual é o caminho que o Senhor pede, mas todos nós somos convidados a aceitar esta chamada: sair do próprio conforto e ter a coragem de chegar a todas as periferias que precisam da luz do Evangelho" (Exortação Apostólica . Evangelii gaudium, 20).
Jesus começa a sua missão não apenas de um lugar descentralizado, mas também com homens que se diriam "de baixo perfil". Para escolher os seus primeiros discípulos e futuros apóstolos, não se dirige às escolas dos escribas e doutores da lei, mas a pessoas simples e humildes, que se preparam com empenho para a vinda do Reino de Deus. Jesus vai chamá-los de onde trabalham, na margem do lago: são pescadores. Chama-os, e eles o seguem, imediatamente. Deixam as redes e vão com Ele: a sua vida se transformará em aventura extraordinária e fascinante.
E terminou a sua reflexão sublinhando que o Senhor continua ainda hoje a chamar:
Passa pelas estradas da nossa vida quotidiana; nos chama para irmos com Ele, e trabalhar com Ele para o Reino de Deus, nas "Galileias" dos nossos tempos. Deixemo-nos levar pelo seu olhar, a sua voz, e sigamo-lo! "Para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia seja privada da sua luz"
Após o Angelus o Papa recordou o Dia Mundial dos Doentes de Lepra que hoje se celebra. Esta doença, embora em declínio, infelizmente, ainda afecta muitas pessoas em condições de grave miséria. É importante manter viva a solidariedade com estes irmãos e irmãs. A eles asseguremos a nossa oração; e rezemos também por todos aqueles que os assistem e, em muitos modos, se empenham para derrotar esta doença – disse o Papa.
E sobre a difícil situação na Ucrânia o Papa afirmou:
Estou perto com a oração à Ucrânia, em particular àqueles que perderam suas vidas nestes dias e às suas famílias. Espero que se desenvolva um diálogo construtivo entre as instituições e a sociedade civil e, evitando qualquer recurso a acções violentas, possam prevalecer nos corações de todos o espírito de paz e a busca pelo bem comum!
E o Papa Francisco dirigiu o seu pensamento para Cocò Campolongo, uma criança que nos últimos dias, com apenas três anos, foi queimada num carro em Cassano:
"Esta crueldade por uma criança assim tão pequena parece não ter precedentes na história do crime. Rezemos com Coco, que certamente está com Jesus no céu para as pessoas que fizeram este crime, para que se arrependam e se convertam ao Senhor ".
E aos milhões de pessoas que do Extremo Oriente ou espalhados em várias partes do mundo, incluindo chineses, coreanos e vietnamitas que nos próximos dias celebrarão o Ano Novo Lunar, o Papa Francisco desejou uma vida cheia de alegria e esperança:
“O anseio irreprimível de fraternidade, que habita no seu coração, encontre na intimidade da família o lugar privilegiado, onde ele pode ser descoberto, educado e realizado. Esta será uma contribuição valiosa para a construção de um mundo mais humano, onde a paz reina”.
O Papa recordou ainda a Beata Maria Cristina de Savóia que ontem, em Nápoles, foi proclamada; viveu na primeira metade do século XIX, foi mulher de profunda espiritualidade e humildade, capaz de suportar o sofrimento de seu povo, tornando-se uma verdadeira mãe dos pobres. O seu exemplo extraordinário de caridade mostra que a vida boa do Evangelho é possível em todos os ambientes e condições sociais.
Uma afectuosa saudação dirigiu o Papa aos peregrinos de diferentes paróquias da Itália e de outros países, bem como as associações, grupos escolares e outros. Em particular, o Papa quis exprimir a sua proximidade às pessoas afectadas pelas cheias na região italiana de Emília.
E a terminar, dirigindo aos meninos e meninas da Acção Católica da Diocese de Roma, o Papa agradeceu-lhes por terem vindo assim numerosos também este ano, acompanhados pelo Cardeal Vigário, como etapa final da sua "Caravana da Paz". E após a leitura da mensagem por um dos dois meninos que estavam com o Papa, foram libertadas duas pombinhas brancas, símbolo de paz.