Em sintonia com o que afirmara já de manhã às Autoridades e ao Corpo Diplomático, de tarde, no encontro com os líderes das diferentes religiões, na Universidade Católica, o Santo Padre advertiu “não é digno de Deus nem do homem” qualquer “uso distorcido da religião”. “Matar em nome de Deus é sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é desumano”.
O Papa começou por recordar que a Albânia foi testemunha das inúmeras violências e dramas que pode causar a exclusão forçada de Deus da vida pessoal e comunitária.
Quando se pretende, em nome duma ideologia, expulsar Deus da sociedade, acaba-se adorando ídolos, e bem depressa o próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é espezinhada, os seus direitos violados.
É conhecida “a brutalidade a que pode conduzir a privação da liberdade de consciência e da liberdade religiosa – observou o Papa - e como desta ferida se gera uma humanidade radicalmente empobrecida, porque fica privada de esperança e de ideais de referimento.
As mudanças ocorridas nos últimos 25 anos – reconheceu o Papa – permitiram criar as condições para uma efectiva liberdade de religião, tornando possível a cada comunidade reavivar as próprias tradições e contribuir para a reconstrução moral do país. Neste contexto, o Papa Francisco recordou o que afirmou João Paulo II na sua visita à Albânia em 1993:
«a liberdade religiosa... não é apenas um precioso dom do Senhor para quantos têm a graça da fé: é um dom para todos, porque é garantia basilar de qualquer outra expressão de liberdade… Nada como a fé nos recorda que, se tivermos um único Criador, somos também todos irmãos! A liberdade religiosa é assim um baluarte contra os totalitarismos e um contributo decisivo para a fraternidade humana»
O mesmo João Paulo II recordou nessa ocasião que «a verdadeira liberdade religiosa protege das tentações da intolerância e do sectarismo, e promove atitudes de diálogo respeitoso e construtivo»
Não podemos deixar de reconhecer como a intolerância, com quem tenha convicções religiosas diferentes das próprias, seja um inimigo particularmente insidioso, que hoje infelizmente se está a manifestar em várias regiões do mundo.
Como crentes – observou ainda o Papa Francisco - há que estar particularmente vigilante para que a religiosidade e a ética que vivemos com convicção e que testemunhamos com paixão se exprimam sempre em atitudes dignas daquele mistério que pretendemos honrar, rejeitando decididamente como não verdadeiras – porque não são dignas de Deus nem do homem – todas as formas que constituem um uso distorcido da religião.
A religião autêntica é fonte de paz e não de violência. Ninguém pode usar o nome de Deus, para cometer violência. Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é desumano.
A liberdade religiosa – fez notar o Papa - não é um direito que se possa garantir apenas pelo sistema legislativo, aliás necessário; “a liberdade religiosa é um espaço comum, um ambiente de respeito e colaboração que deve ser construído com a participação de todos, incluindo aqueles que não têm qualquer convicção religiosa.”
Neste contexto, recordou “duas atitudes que - disse - podem ser de particular utilidade na promoção desta liberdade fundamental.
A primeira é ver em cada homem e mulher – mesmo naqueles que não pertencem à tradição religiosa própria –, não rivais e menos ainda inimigos, mas irmãos e irmãs. Quem está seguro das próprias convicções não tem necessidade de se impor, de exercer pressões sobre o outro: sabe que a verdade tem a sua própria força de irradiação.
No fundo, todos somos peregrinos sobre esta terra e, nesta nossa viagem… não vivemos como entidades autónomas e auto-suficientes – quer se trate de indivíduos, quer de grupos nacionais, culturais ou religiosas – mas dependemos uns dos outros, estamos confiados aos cuidados uns dos outros.
Uma segunda atitude é o compromisso a favor do bem comum. Sempre que a adesão à própria tradição religiosa faz germinar um serviço mais convicto, mais generoso, mais altruísta à sociedade inteira, verifica-se um autêntico exercício e crescimento da liberdade religiosa.
Convidando a olhar ao redor, o Papa recordou "as inúmeras necessidades dos pobres" e "quanto precisam ainda as nossas sociedades de encontrar caminhos para uma justiça social mais ampla, para um desenvolvimento económico inclusivo!” Ora, “homens e mulheres inspirados pelos valores das próprias tradições religiosas podem oferecer uma contribuição não só importante mas insubstituível. Este é um terreno particularmente fecundo também para o diálogo inter-religioso.
Queridos amigos, exorto-vos a manter e desenvolver a tradição de boas relações, existente na Albânia, entre as comunidades religiosas e a sentir-vos unidos no serviço à vossa amada pátria. Continuai a ser sinal para o vosso país – e não só para ele – da possibilidade de relações cordiais e de fecunda colaboração entre pessoas de religiões diferentes. E rezai também por mim. Deus vos abençoe!