O Papa Francisco defendeu nesta sexta-feira na Turquia a necessidade de uma frente inter-religiosa contra o extremismo e o terrorismo para evitar situações como as atualmente provocadas pelos jihadistas do ‘Daesh’, o autoproclamado Estado Islâmico.
“Particularmente preocupante é o facto de que, sobretudo por causa de um grupo extremista e fundamentalista, comunidades inteiras – especialmente de cristãos e yazidis, mas não só – tenham sofrido, e ainda sofram, violências desumanas por causa da sua identidade étnica e religiosa”, declarou, no segundo discurso da viagem, no "Diyanet".
A Presidência para os Assuntos Religiosos é a mais alta autoridade islâmica sunita na Turquia.
Tal como fizer no palácio presidencial de Ancara, Francisco recordou as centenas de milhares de pessoas que foram tiradas “à força das suas casas” e “tiveram de abandonar tudo para salvar a sua vida e não renegar a fé”.
“A violência abateu-se também sobre edifícios sagrados, monumentos, símbolos religiosos e o património cultural, como se quisessem apagar todo o vestígio, qualquer memória do outro”, acrescentou.
A intervenção denunciou uma situação “verdadeiramente trágica” no Médio Oriente, especialmente no Iraque e na Síria.
“Todos sofrem com as consequências dos conflitos e a situação humanitária é angustiante. Penso em tantas crianças, nos sofrimentos de tantas mães, nos idosos, nos deslocados e refugiados, nas violências de todo o género”, referiu o Papa.
Neste contexto, Francisco sustentou que todos os chefes religiosos têm a “obrigação de denunciar todas as violações da dignidade e dos direitos humanos”.
“A vida humana, dom de Deus Criador, possui um caráter sagrado. Por isso, a violência que busca uma justificação religiosa merece a mais forte condenação, porque o Omnipotente é Deus da vida e da paz”, explicou.
Segundo o Papa, os crentes devem ser “homens e mulheres de paz”, capazes de viver como irmãos e irmãs “apesar das diferenças étnicas, religiosas, culturais ou ideológicas”.
Antes da intervenção, Francisco e o presidente da "Diyanet", Mehmet Gormez, estiveram reunidos num encontro privado.
Já na sala onde estavam os jornalistas da imprensa internacional, o Papa disse aos vários líderes religiosos da Turquia que há, neste momento, “guerras que semeiam vítimas e destruições, tensões e conflitos interétnicos e inter-religiosos, fome e pobreza que afligem centenas de milhões de pessoas, danos ao meio ambiente, ao ar, à água, à terra”.
Neste contexto, “as boas relações e o diálogo entre líderes religiosos revestem-se de grande importância” e “constituem uma mensagem clara dirigida às respetivas comunidades, manifestando que, apesar das diferenças, o respeito mútuo e a amizade são possíveis”.
“Nós, muçulmanos e cristãos, somos depositários de tesouros espirituais inestimáveis, entre os quais reconhecemos elementos de convergência, embora vividos segundo as tradições próprias”, referiu ainda.
O Papa voltou a agradecer o trabalho do Governo e da população da Turquia no acolhimento das centenas de milhares de pessoas que fogem dos seus países por causa dos conflitos.
O encontro marcou o final do primeiro dia da visita à Turquia, que no sábado e domingo vai prosseguir em Istambul, com passagens pelo Museu de Santa Sofia, a Mesquita Azul e um encontro com o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu I, além de uma Missa na Catedral católica do Espírito Santo.