A Quaresma é um tempo de luta contra as insídias do demónio e desta luta nasce a conversão dos corações – disse o Papa Francisco durante o Angelus na Praça de São Pedro, no fim do qual o Papa fez distribuir aos presentes um pequeno subsídio para a reflexão pessoal na Quaresma. Além disso, o Papa anunciou que na próxima semana estará em retiro para viver os Exercícios espirituais.
Aos milhares de fiéis reunidos na Praça de S. Pedro para a oração mariana do Angelus o Papa Francisco falou antes de tudo da Quaresma iniciada na última quarta-feira, tempo litúrgico que se refere aos quarenta dias passados por Jesus no deserto após o seu baptismo no Jordão. Com palavras muito simples, disse Francisco, o Evangelista Marcos descreve a prova enfrentada voluntariamente por Jesus, antes de iniciar a sua missão messiânica, uma prova da qual o Senhor sai vitorioso e que o prepara para anunciar o Evangelho do Reino de Deus. Ele, naqueles 40 dias de solidão, enfrentou Satanás "corpo a corpo", desmascarando as suas tentações, e o venceu, disse o Papa Francisco, explicando o sentido deste I domingo:
“A Igreja faz-nos recordar este mistério ao início da Quaresma, porque esse nos dá a perspectiva e o sentido deste tempo, que é tempo de combate espiritual contra o espírito do mal. E enquanto atravessamos o "deserto" quaresmal, mantemos o nosso olhar para a Páscoa, que é a vitória definitiva de Jesus contra o Maligno, contra o pecado e contra a morte. Eis pois o significado deste primeiro domingo da Quaresma: colocar-nos com determinação no caminho de Jesus, na estrada que conduz à vida”.
Esta estrada – prosseguiu o Papa – passa pelo deserto, e o deserto é o lugar onde se pode escutar a voz de Deus e a voz do tentador. No barulho e na confusão, reiterou, isto não se pode fazer; ouvem-se apenas vozes superficiais, ao passo que no deserto podemos descer em profundidade, onde se joga verdadeiramente o nosso destino, a vida ou a morte:
“E como escutamos a voz de Deus? Ouvimo-la na sua Palavra. E por isso é importante conhecer as Escrituras, porque senão nós não saberemos responder às insídias do maligno. E aqui gostaria de voltar ao meu conselho de cada um ler todos os dias Evangelho, meditá-lo um pouco, uns dez minutos, e também trazê-lo sempre connosco no bolso, ter o Evangelho na mão. O deserto quaresmal nos ajuda a dizer ‘não’ à mundanidade, aos "ídolos", ajuda-nos a fazer escolhas corajosas de acordo com o Evangelho e a reforçar a solidariedade para com os irmãos”.
E o Papa convidou a todos a entrar sem medo no deserto, pois não estamos sozinhos: estamos com Jesus, com o Pai e o Espírito Santo. E mais, como foi para Jesus, é mesmo o Espírito Santo que nos guia no caminho quaresmal, o mesmo Espírito que desceu sobre Jesus e que nos foi dado no Baptismo. A Quaresma é, portanto, disse ainda o Papa Francisco, um tempo privilegiado que nos deve levar a tomar cada vez mais consciência que o Espírito Santo que recebemos no Baptismo, operou e pode operar ainda hoje em nós e, no fim do caminho quaresmal, ou seja na Vigília Pascal, poderemos renovar com maior consciência a aliança baptismal e os compromissos que dela derivam.
E o Papa invocou a Virgem Santa, modelo de docilidade ao Espírito, para que ajude a todos a deixar-se guiar por Ele, que quer fazer de cada um de nós uma "nova criatura", tendo acrescentado:
“A ela confio em particular a semana de Exercícios Espirituais, que terá início esta tarde, e na qual vou participar juntamente com os meus colaboradores da Cúria Romana. Peço-vos que nos acompanheis com as vossas orações”.
Depois das ave-marias do Angelus e cordiais saudações às famílias, grupos paroquiais, associações e todos os peregrinos provenientes de Roma, da Itália e de diversas partes do mundo (e em particular os fiéis de Nápoles, Cosenza e Verona e os rapazes de Seregno vindos para a profissão da fé), o Papa fez um presente particular aos fiéis reunidos na Praça de S. Pedro, dizendo:
“A Quaresma é um caminho de conversão que tem como centro o coração. Por isso, neste primeiro domingo, pensei em dar-vos como presente a vós que estais aqui na praça, um pequeno livrinhos de bolso intitulado "Guarda o coração." Este livrinho reúne alguns ensinamentos de Jesus e os conteúdos essenciais da nossa fé, como por exemplo os sete sacramentos, os dons do Espírito Santo, os Dez Mandamentos, as virtudes, as obras de misericórdia ... Agora será distribuído pelos voluntários, entre os quais estão muitas pessoas sem-abrigo que vieram em peregrinação. Pegue um livrinho cada qual e levai-o convosco, como apoio para a conversão e o crescimento espiritual, que parte sempre do coração: lá onde se joga o jogo das escolhas quotidianas entre o bem e o mal, entre mundanidade e Evangelho, entre indiferença e partilha. A humanidade precisa de justiça e paz, e só poderá tê-las se se voltar com todo o coração para Deus, fonte de justiça e paz”.
O Papa terminou desejando bom domingo a todos e pedindo que não se esqueçam de rezar por ele e, como habitualmente, concluiu:
“Bom almoço e até logo!”