O Papa Francisco elogiou este Sábado o exemplo de “misericórdia” de Madre Teresa de Calcutá e condenou o “grave pecado” de ignorar o sofrimento alheio.
“Não é possível desviar o olhar e seguir outra direcção para não ver as muitas formas de pobreza que pedem misericórdia. Olhar para o lado para não ver a fome, as doenças, as explorações, isto é um grave pecado. É um pecado moderno, um pecado de hoje”, denunciou Francisco, durante um encontro com misericórdias e instituições de voluntariado de todo o mundo, incluindo Portugal, na Praça de São Pedro.
O Jubileu dos Voluntários e Operadores da Misericórdia, inserido no ano santo extraordinário que a Igreja Católica está a viver, tem como ponto culminante a canonização, este domingo, de Madre Teresa de Calcutá.
“Amanhã, teremos a alegria de ver Madre Teresa proclamada santa. Merece”, disse o Papa aos presentes.
Francisco sublinhou que a nova santa se une a todos os que na Igreja, ao longo dos séculos, “tornaram visíveis com a sua santidade o amor de Cristo”.
“Imitemos nós também o seu exemplo, e peçamos para ser humildes instrumentos nas mãos de Deus para aliviar o sofrimento do mundo e dar a alegria e a esperança da ressurreição”, apelou.
O pontífice argentino considera que não seria digno de um cristão “passar ao largo” do sofrimento humano, ficando de “consciência tranquila” só por ter rezado ou por ter ido à Missa ao domingo.
A catequese partiu da “certeza inabalável” do amor de Deus na vida de cada pessoa, que deve levar todos a dar “novos sinais de misericórdia”.
“A misericórdia não é fazer o bem, de passagem, é envolver-se”, precisou.
Francisco deixou o seu agradecimento aos “artesãos de misericórdia” que dão “credibilidade” à Igreja pelo seu trabalho, “com as crianças abandonadas, os doentes, os pobres sem comida e trabalho, os idosos, os sem-abrigo, os prisioneiros, refugiados e migrantes, as pessoas afectadas por desastres naturais”.
Estes sinais concretos de solidariedade, acrescentou, combatem a “tentação da indiferença” e o “individualismo”.
A intervenção sublinhou a importância da oração para ter “força” e “humildade” neste trabalho solidário.
O Papa concluiu com um pedido de oração, em silêncio, pelas pessoas que sofrem, pelos que são “descartados” da sociedade e pelos voluntários que os procuram ajudar, rezando ainda pelos que “olham para o lado” perante a “miséria” humana.
Antes da intervenção do Papa, os participantes ouviram cânticos e testemunhos pessoais, como o de um bancário que foi preso por causa de um erro judicial e que hoje faz voluntariado.
A assembleia ouviu ainda a irmã Sally, das Missionárias da Caridade - congregação fundada por Madre Teresa -, única sobrevivente do ataque terrorista que matou quatro religiosas no último mês de Março, no Iémen.
Pelo menos 400 representantes portugueses, de várias Misericórdias em actividade no nosso país, estão no Vaticano, numa comitiva liderada por Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas – UMP.
Os responsáveis são acompanhados por D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, que cumprimentou o Papa no final da audiência especial.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que não integra a UMP, também está representada neste encontro mundial que se conclui, no domingo, com a canonização de Madre Teresa de Calcutá, às 10h30