O Pontífice presidiu à Liturgia da Palavra em memória dos novos mártires “assassinados pelas insanas ideologias do século passado ou só porque discípulos de Jesus”, como disse o Papa em sua homilia.
“A lembrança dessas heroicas testemunhas antigas e recentes nos confirmam a consciência de que a Igreja é Igreja de mártires. Tiveram a graça de confessar Jesus até o fim, até a morte. Eles sofrem, dão a vida, e nós recebemos a bênção de Deus por seu testemunho”, disse o Papa, citando ainda os muitos “mártires escondidos”: homens e mulheres que na vida quotidiana tentam ajudar os irmãos e amar a Deus sem reservas.
O ódio do príncipe do mundo: a origem da perseguição
O Papa falou ainda da causa de toda perseguição, isto é, o “ódio do príncipe deste mundo”. E a origem do ódio é esta: porque fomos salvos por Jesus, ele nos odeia e suscita a perseguição que, desde os tempos de Jesus, continua até os nossos dias.
Em momentos difíceis da história, prosseguiu Francisco, se diz que a pátria necessita de heróis. Já a Igreja necessita de mártires, de testemunhas, dos santos de todos os dias que testemunham Jesus com a coerência de vida e daqueles que O testemunham até a morte. “Todos eles são o sangue vivo Igreja.”
Campos de refugiados: campos de concentração
Deixando o texto de lado, o Papa afirmou que gostaria de acrescentar um ícone nesta Basílica: a de uma mulher que ele não conhece o nome, mas de quem conheceu a história quando visitou a ilha grega de Lesbos.
No campo de acolhimento de refugiados, o Pontífice cumprimentou um homem de cerca 30 anos, muçulmano casado com uma cristã e pai de três filhos, que viu a mulher ser degolada por se recusar a tirar o crucifixo diante dos terroristas. “Nós nos amávamos tanto”, disse sem rancor o muçulmano ao Papa. “Este ícone eu trago hoje como presente”, afirmou Francisco.
“Não sei se aquele homem conseguiu sair daquele campo de concentração”, assim definiu o Papa o local devido à quantidade de pessoas. “Aprecio o empenho de acolhimento de alguns povos generosos, mas parece que os acordos internacionais são mais importantes do que os direitos humanos.”
O amor permite lutar contra a prepotência
“A herança viva dos mártires doa hoje a nós paz e unidade. Eles nos ensinam que, com a força do amor, com a mansidão, se pode lutar contra a prepotência, a violência, a guerra e se pode realizar a paz com paciência. E então podemos assim rezar: Ó Senhor, torne-nos dignas testemunhas do Evangelho e do seu amor; e funde a sua misericórdia sobre a humanidade; renove a sua Igreja, proteja os cristãos perseguidos, conceda em breve a paz ao mundo inteiro.”
Testemunhos
No decorrer da celebração, os participantes ouviram o testemunho de parentes e amigos de três mártires cuja memória está preservada na Basílica: Karl Schneider, pastor da Igreja Reformada assassinado em 1939 no campo de Buchenwald; Roselyne, irmã do padre Jacques Hamel, assassinado ao final da missa em Rouen, na França, em 26 de julho do ano passado num atentado terrorista; e Francisco Hernandez Guevara, amigo de William Quijano, um jovem da comunidade de Santo Egídio de El Salvador, assassinado em Setembro de 2009 por seu trabalho em prol da juventude. Já o fundador da comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi, recordou que neste mesmo dia, quatro anos atrás, foram sequestrados em Aleppo dois bispos, de cujo paradeiro ainda não se tem notícia.
Novos mártires
Depois de sua homilia, o Papa prestou homenagem nas seis capelas laterais da Basílica que mantêm as relíquias dos mártires da Europa, África, América, Ásia. Velas foram acesas para acompanhar cada oração que foi pronunciada em memória das testemunhas da fé do século XX até os nossos dias: foram lembrados os armênios, os cristãos massacrados durante a I Guerra Mundial, mártires da paz e do diálogo como os monges trapistas na Argélia, Pe. Andrea Santoro na Turquia, vítimas da máfia, como Pe. Pino Puglisi. Uma lembrança que uniu nomes mais conhecidos, como o de Dom Oscar Arnulfo Romero, ao de muitos missionários que, no mundo, deram sua vida pelo Evangelho.
Refugiados
Ao final da celebração, Francisco encontrou numa sala adjacente à Basílica um grupo de refugiados que chegou à Itália graças aos corredores humanitários, além de mulheres vítimas do tráfico humano e menores desacompanhados.
Ao cumprimentar os fiéis que o aguardavam do lado de fora da Basílica, o Papa voltou a falar do desafio migratório, recordando que fechar-se corresponde ao suicídio.
“Pensemos na crueldade que se abate sobre tantas pessoas, em tantas pessoas que chegam em embarcações e são acolhidos por países generosos, como Itália e Grécia, mas depois os tratados não deixam... Se na Itália dois migrantes fossem acolhidos por município, teria lugar para todos. Que a generosidade de Lampedusa, Sicília, Lesbos, possam contagiar a todos. Somos uma civilização que não faz filhos e mesmo assim fechamos as portas aos migrantes: isso se chama suicídio.”