“Urge
que a Igreja apele a África a uma consciência purificada, para trabalhar
honestamente para o bem comum!” – sublinhou D. Francisco Chimoio, intervindo
nesta quinta de manhã, no Sínodo para a África, em nome da Conferência
Episcopal de Moçambique.
O arcebispo de Maputo considerou que, na sua missão
profética, a Igreja deve insistir em praticar e exortar a actos que consolidem
e dignifiquem a paz na África, nomeadamente “apelando aos governantes políticos
e ao povo a privilegiarem acções concretas”, tais como “a despartidarização
efectiva” das forças de segurança, das instituições judiciárias e dos aparelhos
do Estado, e também o “combate efectivo contra todo o tipo de corrupção,
descriminação e opressão, sobretudo no sector público”.
Por sua vez, D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa,
considerou que “Portugal e a Europa devem reinterpretar a aventura missionária
assumindo atitudes novas e comprometidas com a vida dos povos que
evangelizaram”, “fornecendo um apoio concreto às Igrejas locais africanas,
através da partilha de bens materiais e de pessoas”. O arcebispo de Braga
advertiu, contudo, que há que evitar a “acepção de pessoas, mesmo por motivos
religiosos”.
Um dos aspectos mais sublinhados nesta congregação geral foi o número 53 do
documento preparatório, que punha de sobreaviso “contra as divisões étnicas ou
tribais, regionais ou nacionais, que se verificam mesmo em certas comunidades
eclesiais”. D. Valentim Nkinda, da República do Congo, por exemplo, fez notar
que a Igreja católica em África impõe-se à admiração e respeito mesmo dos que
lhe são indiferentes precisamente pelo espírito de comunhão, para lá das
diferentes origens dos seus membros.
No momento em que em África se advertem
fermentos de divisão por razões étnicas e tribais, este Sínodo – propôs – deve
insistir na necessidade de “que se minimizem as tendências tribalizantes e
etnicizantes, cuidando da formação dos fiéis católicos, dos agentes pastorais,
dos padres e religiosos para que todos se possam impregnar dos espírito
subjacente às estruturas de diálogo e de participação na Igreja”. O prelado
congolês sublinhou a necessidade de nas nomeações canónicas, a todos os níveis,
as pessoas sejam escolhidas sem condicionantes de natureza tribal ou étnica.
Idêntica insistência da parte do Padre Emanuel Typamm, Secretário Geral da
Confederação das Conferências dos Superiores Maiores da África e Madagáscar,
que recordou que a reconciliação tem que começar pelo interior das comunidades
religiosas e das dioceses, superando contraposições étnicas. A mesma mensagem
na boca do Padre Damiam Weber, Superior Geral dos Missionários de Marianhill:
os religiosos e as comunidades religiosas precisam de se reconciliar, no seu
próprio interior, e uns com os outros. É preciso fazer a experiência da
reconciliação, e testemunhá-la, antes de a pregar aos outros!
Foi também levantada a questão do “diálogo sistemático” com o Islão. O
arcebispo de Abuja, na Nigéria, considerou que se fizeram progressos na
crescente tomada consciência da pertença comum de cristãos e muçulmanos a uma
mesma nação, comunidade e família. Para D. John Onaiyekan, este Sínodo deve
contribuir para que esta atitude sistemática de diálogo com o Islão possa
ganhar raízes em todo o continente africano.