O Papa concluiu este domingo a sua primeira viagem à Colômbia, após cinco dias marcados por apelos em favor da paz e da reconciliação num país que procura sair de 52 anos de guerra civil.
“Colômbia, o teu irmão precisa de ti! Vai ao seu encontro, levando o abraço da paz, livre de toda a violência”, pediu, na saudação de despedida que pronunciou na zona portuária da cidade de Cartagena, a norte do país.
Francisco, que esperou pelo fim das negociações de paz para se deslocar à Colômbia, sublinhou desde a sua primeira intervenção a necessidade de evitar a tentação de “vingança” entre as partes que estiveram no conflito.
“Que este esforço [de paz] nos faça fugir de qualquer tentação de vingança e busca de interesses particulares e de curto prazo”, assinalou, perante o presidente da República e outras autoridades civis, em Bogotá.
A mesma mensagem foi deixada aos jovens, desafiados a perdoar, depois dos momentos “difíceis e obscuros” que o país viveu, em busca de uma paz “autêntica e duradoura”.
O Papa encontrou-se com os bispos da Colômbia, chamados por ele a estar na linha da frente contra a violência e corrupção no país, falando depois do “rosto mestiço” da Igreja Católica, perante os membros do Comité Directivo do Conselho Episcopal Latino-Americano.
Ainda em Bogotá, Francisco presidiu a uma Missa para mais de um milhão de pessoas tendo deixado gestos e palavras em defesa da vida.
O terceiro dia da viagem foi centrado nas vítimas do conflito, com várias celebrações em Villavicêncio, na região oriental, como a beatificação de D. Jesús Emílio Jaramillo e do padre Pedro Maria Ramírez, assassinados no século XX.
Centenas de milhares de pessoas viram o Papa reforçar o apelo à reconciliação do país e à rejeição da “vingança”, numa Missa com a presença de soldados, agentes da polícia e ex-guerrilheiros, além de representantes das 102 comunidades indígenas.
“Qualquer esforço de paz sem um compromisso sincero de reconciliação será um fracasso”, advertiu.
Um dos pontos altos do programa foi a “grande vigília” de oração pela reconciliação nacional da Colômbia, na presença de 6 mil vítimas do conflito armado.
"O ódio não tem a última palavra", disse Francisco, depois de ouvir, com a multidão, os testemunhos de pessoas atingidas pela guerra civil das últimas décadas e de ex-combatentes.
Nova multidão esperava o Papa em Medellín, onde o dia começou com uma mensagem centrada na comunidade católica e na necessidade de “renovação” da Igreja.
O pontífice visitou depois uma instituição de acolhimento para crianças desfavorecidas, na qual alertou para o “sofrimento injusto” de menores em todo o mundo.
Ainda na cidade-símbolo do narcotráfico, Francisco evocou a “memória dolorosa” das vítimas da droga, apelando à “conversão” dos traficantes.
O Papa deixou mensagens em defesa da dignidade das mulheres, das vítimas do tráfico humano, do ambiente e das comunidades afroamericanas, particularmente evocadas em Cartagena, antigo mercado de escravos.
Francisco prestou homenagem ao jesuíta espanhol São Pedro Claver, missionário que no século XVII dedicou a sua vida à defesa dos escravos vindos de África.
Outro tema presente na viagem foi a situação na vizinha Venezuela, com uma mensagem contra a violência e pelo fim da “grave crise” política que afecta o país.
A viagem, que foi acompanhada por milhões de pessoas nas celebrações ao ar livre e nas ruas por onde passou o papamóvel, concluiu-se com a Missa na área do porto de Cartagena, com nova mensagem contra o narcotráfico.