O Papa denunciou no Domingo no Vaticano as vozes orquestradas que na Igreja e no mundo procuram silenciar o “grito” de alegria dos marginalizados que Jesus Cristo veio colocar no centro da sua mensagem.
“Que vê o nosso coração? Jesus continua a ser motivo de alegria e louvor no nosso coração ou envergonhamo-nos das suas prioridades para com os pecadores, os últimos e os abandonados?”, questionou, na homilia da Eucaristia do Domingo de Ramos, na Praça de São Pedro, diante de dezenas de milhares de pessoas.
Numa intervenção com várias reflexões dirigidas para o interior das comunidades católicas, no início da Semana Santa, Francisco sublinhou que Jesus deu a sua vida “para que ninguém apague a alegria do Evangelho” nem “permaneça longe do olhar misericordioso do Pai”.
“Olhar a cruz significa deixar-nos interpelar nas nossas prioridades, escolhas e acções. Significa deixar-nos interrogar sobre a nossa sensibilidade face a quem está a passar ou a viver momentos de dificuldade”, apelou.
Após ter abençoado os ramos de palma e de oliveira, junto ao obelisco central da praça, Francisco seguiu para o altar diante da Basílica de São Pedro, onde evocou os sentimentos que desperta a narração da Paixão.
“Nesta celebração, parecem cruzar-se histórias de alegria e sofrimento, de erros e sucessos que fazem parte da nossa vida diária como discípulos, porque consegue revelar sentimentos e contradições que hoje em dia, com frequência, aparecem também em nós, homens e mulheres deste tempo: capazes de amar muito… mas também de odiar (e muito!); capazes de sacrifícios heróicos mas também de saber «lavar as mãos» no momento oportuno; capazes de fidelidade, mas também de grandes abandonos e traições”, referiu.
A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, assinalou o Papa, representa as vozes dos que viviam marginalizados, dos que foram curados e viveram na pela a sua “compaixão”, o “cântico e a alegria espontânea de tantos marginalizados”.
“É a alegria de tantos pecadores perdoados que reencontraram ousadia e esperança”, acrescentou.
Francisco sublinhou que esta alegria é “insuportável” para os que perderam a sensibilidade face ao sofrimento alheio.
“Como é difícil, para quem procura justificar-se e salvar-se a si mesmo, compreender a alegria e a festa da misericórdia de Deus! Como é difícil, para quantos confiam apenas nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros, poder partilhar esta alegria”, precisou.
Em contraponto ao grito de alegria, o pontífice colocou outro grito da multidão, dirigido contra Jesus: ‘Crucifica-O!’.
“Não é um grito espontâneo, mas grito pilotado, construído, que se forma com o desprezo, a calúnia, a emissão de testemunhos falsos”, sustentou.
Para Francisco, esta é a voz de quem “manipula a realidade”, que privilegia o “relato” ao “facto”, “criando uma versão favorável a si próprio e não tem problemas em «tramar» os outros para ele mesmo se ver livre”.
“O grito de quem não tem escrúpulos em procurar os meios para reforçar a sua posição e silenciar as vozes dissonantes”, prosseguiu.
O Papa realçou que, desta forma, se silencia a festa do povo, destruindo a esperança, a alegria, os sonhos.
“É o grito do «salva-te a ti mesmo» que pretende adormecer a solidariedade, apagar os ideais, tornar insensível o olhar… O grito que pretende eliminar a compaixão, o «sofrer-com», que é a fraqueza de Deus”, observou.
A celebração contou com a presença de jovens de Roma e outras dioceses, por ocasião da celebração do XXXIII Dia Mundial da Juventude.
“Cristo morreu, gritando o seu amor por cada um de nós: por jovens e idosos, santos e pecadores, amor pelos do seu tempo e pelos do nosso tempo”, concluiu Francisco.
A decoração da Praça de São Pedro para este dia foi feita com milhares de plantas aromáticas, flores, ramos de oliveira e os tradicionais ‘palmurelli’, folhas de palmeira entrançadas.
O Papa optou por usar nesta cerimónia a férula (o corresponde ao báculo papal, que é encimado por uma cruz) em madeira de oliveira, feita em Belém.