O Papa apelou este Domingo no Vaticano a superar o pessimismo e o egoísmo, num momento de crise, apelando à unidade e à esperança, falando durante a Missa de Pentecostes, que encerra o tempo pascal no calendário católico.
“Pior do que esta crise, só o drama de a desperdiçar, fechando-nos em nós mesmos”, advertiu, na homilia da celebração a que presidiu na Basílica de São Pedro, com a presença de algumas dezenas de fiéis.
A intervenção centrou-se na necessidade de viver a vida como “dom”, apresentando três “inimigos” dessa perspectiva: o narcisismo, a vitimização e o pessimismo.
“Nesta pandemia, faz um mal imenso o narcisismo, o debruçar-se apenas sobre as próprias carências, insensível às dos outros, o não admitir as próprias fragilidades e erros”, advertiu.
Francisco sublinhou também que a lamentação constante e o ver “tudo negro” são travões ao recomeço, depois da crise provocada pela Covid-19, pensando que “nada voltará a ser como antes”.
Encontramo-nos na carestia da esperança e precisamos de apreciar o dom da vida, o dom que é cada um de nós. Por isso, necessitamos do Espírito Santo, dom de Deus que nos cura do narcisismo, da vitimização e do pessimismo”.
A celebração o Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa, evoca a efusão do Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade na doutrina católica.
O Papa deixou vários apelos para o interior da Igreja Católica, pedindo unidade e respeito pela diversidade dos vários carismas.
“Entre nós existem diversidades, por exemplo de opinião, preferência, sensibilidade. A tentação é defender, sempre de espada desembainhada, as nossas ideias, considerando-as boas para todos e pactuando apenas com quem pensa como nós. Esta é uma tentação feia”, alertou.
Francisco sublinhou que o anúncio da mensagem cristã não deve ser cultivada em grupos fechados, em cenáculos onde se tende a “fazer o ninho”, dado que a Igreja deve ser “comunidade” e “mãe”.
“O Espírito abre, relança, impele para além do que já foi dito e feito, mais além dos recintos duma fé tímida e cautelosa”, acrescentou.
O mundo vê-nos de direita e de esquerda; o Espírito vê-nos do Pai e de Jesus. O mundo vê conservadores e progressistas; o Espírito vê filhos de Deus. O olhar do mundo vê estruturas, que se devem tornar mais eficientes; o olhar espiritual vê irmãos e irmãs implorando misericórdia”.
O Papa questionou a forma como cada um entende Deus, fundamental na sua forma de viver a fé.
“Se tivermos em mente um Deus que toma e Se impõe, desejaremos também nós tomar e impor-nos: ocupar espaços, reivindicar importância, procurar poder. Mas, se tivermos no coração que Deus é dom, muda tudo”, apontou.
“O Espírito, memória viva da Igreja, lembra-nos que nascemos de um dom e crescemos doando-nos; não poupando-nos, mas dando-nos”, disse ainda.
Após a Missa, Francisco vai presidir à recitação da oração mariana do ‘Regina Caeli’ à janela do palácio apostólico, pela primeira vez desde que foram tomadas medidas de confinamento, em Março, para travar a propagação do novo coronavírus.