O Papa presidiu este Domingo no Vaticano à solenidade do Corpo de Deus, sublinhando a ligação entre as celebrações litúrgicas e a caridade, nas comunidades católicas.
“Não podes partir o Pão do domingo, se o teu coração estiver fechado aos irmãos. Não podes comer este Pão, se não deres o pão aos famintos. Não podes partilhar deste Pão, se não partilhas os sofrimentos de quem passa necessidade”, disse, na homilia da celebração que decorreu na Basílica de São Pedro, com transmissão online.
Devido à situação sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, a Missa decorreu com participação limitada e sem a tradicional procissão desta solenidade, pelas ruas da capital italiana.
“No fim de tudo, inclusive das nossas solenes liturgias eucarísticas, restará apenas o amor. E, já desde agora, as nossas Eucaristias transformam o mundo, na medida em que nós mesmos nos deixamos transformar, tornando-nos pão partido para os outros”, indicou o Papa.
Francisco reflectiu sobre a “sede” de transcendência que marca o coração humano e que pode estar a desparecer na sociedade contemporânea.
“Todos nós, cada um de nós tem sede de amor, de alegria, duma vida conseguida num mundo mais humano. E, para esta sede, não basta a água das coisas mundanas, pois trata-se duma sede mais profunda que só Deus pode satisfazer”, assinalou.
O drama de hoje, podemos dizer, é que muitas vezes se extinguiu a sede. Apagaram-se as perguntas sobre Deus, afrouxou o anseio por Ele, são cada vez mais raros os buscadores de Deus. Deus deixou de atrair, porque já não nos damos conta da nossa sede profunda”.
A solenidade do Corpo e Sangue de Cristo foi celebrada em Portugal, na última quinta-feira, 60.° dia após a Páscoa, ligando-se à evocação da Última Ceia, na Quinta-feira Santa; na Itália e outros países, contudo, por não ser feriado civil, celebra-se hoje, o domingo seguinte.
A homilia questionou os participantes sobre o “lugar” em que se deve preparar a Páscoa de Jesus.
“Como Igreja, não nos podemos contentar com o grupinho daqueles que habitualmente se reúnem para celebrar a Eucaristia; devemos ir pela cidade, encontrar-nos com as pessoas, aprender a reconhecer e despertar a sede de Deus e o anseio do Evangelho”, apontou.
Francisco convidou todos a ter um “coração grande” para poder reconhecer a presença de Jesus Cristo.
“É preciso alargar o coração. Precisamos de sair do pequeno quarto do nosso eu e entrar no grande espaço do espanto e da adoração. Isto faz-nos muita falta”, observou.
O Papa destacou o simbolismo do Cenáculo, o espaço onde decorreu a Última Ceia de Jesus com os seus discípulos, defendendo que “a própria Igreja deve ser uma sala grande”.
“Não um círculo restrito e fechado, mas uma comunidade com os braços abertos, acolhedora para com todos. Perguntemo-nos: Quando se aproxima alguém que está ferido, que errou, que segue um percurso de vida diferente, a Igreja, esta Igreja é uma sala grande para o acolher e levar à alegria do encontro com Cristo?”, questionou.
A homilia repetiu as advertências que Francisco tinha deixado ao meio-dia de Roma, na recitação do ângelus, sobre correntes que procuram limitar o acesso à Eucaristia, dentro da Igreja.
“A Eucaristia quer alimentar quem se sente cansado e faminto ao longo do caminho, não nos esqueçamos disto! A Igreja dos perfeitos e dos puros é uma sala onde não há lugar para ninguém; pelo contrário, a Igreja das portas abertas, que faz festa em volta de Cristo, é uma sala grande onde todos, todos, justos e pecadores, podem entrar”, sustentou.
Esta festa litúrgica do Corpo de Deus começou a ser celebrada há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liège, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV através da bula “Transiturus”, em 1264, dotando-a de Missa e ofício próprios.
OC