O Papa criticou este Domingo homilias “abstractas”, que “adormecem a alma”, pedindo uma maior atenção à realidade concreta.
“Às vezes, acontece que as nossas pregações e ensinamentos permanecem genéricos, abstractos, não tocam a alma e a vida das pessoas. Porquê? Porque não têm a força deste hoje que Jesus preenche de significado com o poder do Espírito”, referiu, após a recitação do ângelus.
Falando a respeito da celebração do Domingo da Palavra, que a Igreja Católica assinala hoje em todo o mundo, Francisco falou de “palestras impecáveis, discursos bem construídos, mas que não comovem o coração e, assim, tudo fica como antes”.
“A pregação corre este risco: sem a unção do Espírito, empobrece-se a Palavra de Deus, cai-se em moralismos e conceitos abstractos, apresenta-se o Evangelho com distância, como se estivesse fora do tempo, distante da realidade”, advertiu.
Perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o Papa falou do início da pregação de Jesus, em Nazaré, onde cresceu, e da primeira palavra que proferiu, “hoje”.
“Os concidadãos de Jesus ficam impressionados com sua palavra. Mesmo que, obscurecidos por preconceitos, não acreditem nele, percebem que o seu ensino é diferente do de outros mestres: intuem que há mais em Jesus”, observou, falando da “unção do Espírito Santo”.
“Uma palavra em que não há pulsar a força de hoje não é digna de Jesus e não ajuda a vida das pessoas. Por isso, quem prega, por favor, é o primeiro a ter de experimentar o hoje de Jesus, para poder comunicá-lo no hoje dos outros”, acrescentou.
O Papa agradeceu depois a “todos os pregadores e arautos do Evangelho que permanecem fiéis à Palavra que sacode o coração”.
A intervenção deixou um desafio particular aos católicos: “Nos domingos deste ano litúrgico é proclamado o Evangelho de Lucas, o Evangelho da misericórdia. Por que não lê-lo pessoalmente, todo, uma pequena passagem a cada dia?”.
Francisco renovou o seu conselho de ter no bolso ou na mala uma cópia dos Evangelhos, para os ler regularmente.
“A Palavra de Deus é também o farol que orienta o caminho sinodal lançado em toda a Igreja. Enquanto nos esforçamos para ouvir uns aos outros, com atenção e discernimento, – porque não é um inquérito de opinião, não – ouçamos juntos a Palavra de Deus e o Espírito Santo”, prosseguiu.
Após a oração, Francisco recordou a proclamação de Santo Irineu (séc. II-III) como doutor da Igreja, com o título de ‘Doctor unitatis’, “doutor da unidade”, colocando esta decisão no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.
“Que, por sua intercessão, o Senhor nos permita trabalhar, todos juntos, pela plena unidade dos cristãos”, concluiu.
OC