"O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. "É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal." A verdadeira solução, portanto, é a conversão, com o convite para acolhê-la com o coração aberto.
Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro (30 mil, segundo a Gendarmaria), o Papa começa explicando a passagem do Evangelho que fala das notícias que chegavam a Jesus de mortes devido à violência de Pilatos e da queda da torre de Siloé. Diante destas tragédias, as pessoas queriam saber quem era o culpado. “Talvez essas pessoas fossem mais culpadas do que outras e Deus as puniu?”, perguntavam. Questionamentos, observou Francisco, “sempre actuais”:
Quando as más notícias nos oprimem e nos sentimos impotentes diante do mal, muitas vezes nos perguntamos: trata-se, quem sabe, de um castigo de Deus? É Ele quem envia uma guerra ou uma pandemia para nos punir por nossos pecados? E por que o Senhor não intervém?
No contexto destes questionamentos, um alerta:
Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez e, para encontrar uma resposta fácil para o que não podemos explicar, acabamos culpando a Deus. E tantas vezes o mal hábito das blasfémias vem disto. Quantas vezes atribuímos a Ele as nossas desgraças, atribuímos as desventuras no mundo a Ele que, pelo contrário, sempre nos deixa livres e, portanto, nunca intervém impondo-se, apenas propondo-se; a Ele que nunca usa a violência e, de fato, sofre por nós e connosco!
O mal nunca pode vir de Deus, Ele nos trata segundo sua misericórdia
O Papa explica que Jesus “rejeita e contesta fortemente a ideia de atribuir nossos males a Deus: aquelas pessoas que foram mortas por Pilatos e aqueles que morreram debaixo da torre não eram mais culpados do que os outros e não são vítimas de um Deus impiedoso e vingativo, que não existe!”.
“O mal nunca pode vir de Deus porque Ele "não nos trata segundo os nossos pecados", mas segundo a sua misericórdia. É o estilo de Deus. Não pode tratar-nos de outra forma. Sempre nos trata com misericórdia.”
Ao contrário, ao invés de culparmos Deus, devemos olhar para dentro de nós mesmos:
É o pecado que produz a morte; são os nossos egoísmos que despedaçam os relacionamentos; são nossas escolhas erradas e violentas que desencadeiam o mal.
Acolher o convite à conversão com coração aberto
A verdadeira solução, portanto, é a conversão: "Se não vos converterdes - diz ele – ireis morrer todos do mesmo modo":
É um convite urgente, sobretudo neste tempo de Quaresma. Acolhamo-lo com o coração aberto. Convertamo-nos do mal, renunciando àquele pecado que nos seduz, abramo-nos à lógica do Evangelho: porque, onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!
Francisco recorda que Jesus sabe que “não é fácil converter-se, e que nos ajudar nisto. Sabe que tantas vezes recaímos nos mesmos erros e nos mesmos pecados; que nos desencorajamos e, talvez, nos pareça que nosso esforço no bem é inútil em um mundo onde o mal parece reinar.”
O "Deus de outra possibilidade"
Assim, depois do apelo à conversão – acrescentou o Papa – Jesus nos encoraja com uma parábola que fala da paciência de Deus, com a “imagem consoladora de uma figueira que não dá frutos no período estabelecido, mas que não é cortada: lhe é dada mais tempo, outra possibilidade”:
“Gosto de pensar que um belo nome de Deus seria "o Deus de outra possibilidade": ele sempre nos dá outra oportunidade, sempre, sempre. Assim é a sua misericórdia.”
Deus, o melhor dos pais
E observa que “assim faz o Senhor connosco: não nos separa de seu amor, não desanima, não se cansa de nos devolver a confiança com ternura”:
Irmãos e irmãs, Deus acredita em nós! Deus confia em nós e nos acompanha com paciência, a paciência de Deus connosco. Ele não desanima, mas sempre coloca esperança em nós. Deus é Pai e olha para você como um pai: como o melhor dos pais, não vê os resultados que você ainda não alcançou, mas os frutos que você ainda poderá dar; não leva em conta suas faltas, mas encoraja suas possibilidades; não se concentra no seu passado, mas aposta com confiança no seu futuro. Porque Deus está perto de nós, Ele está perto de nós. O estilo de Deus - não esqueçamos -: proximidade, ele está próximo, com misericórdia e ternura. E assim nos acompanha Deus: próximo, misericordioso e terno.
Peçamos, portanto, à Virgem Maria - foi o convite do Santo Padre ao concluir - que nos dê esperança e coragem, e acenda em nós o desejo de conversão.