O papa Francisco denunciou hoje o "culto do dinheiro" e "a ditadura de uma economia sem rosto, nem objectivo verdadeiramente humano", lamentando que ética e solidariedade sejam conceitos "que incomodam".
Perante os novos embaixadores do Quirguistão, Antigua e Barbuda, Luxemburgo e Botswana, o papa congratulou-se com as "conquistas positivas" da humanidade "nos domínios da saúde, educação e comunicação".
Francisco considerou que uma boa parte da população mundial vive em condições de "precariedade quotidiana" e evocou "o medo e o desespero que se apoderam dos corações de muitas pessoas, mesmo nos países ricos".
Para o ex-arcebispo de Buenos Aires, conhecido pela atenção dispensada aos pobres, uma das causas é "a relação com o dinheiro". Para Jorge Bergoglio, a crise financeira mundial tem origem "numa profunda crise antropológica" com a criação "de ídolos novos", "o culto do dinheiro e a ditadura de uma economia sem rosto, nem objectivo verdadeiramente humano".
O Homem está "reduzido a uma única das suas necessidades: o consumo e, pior ainda, o ser humano é considerado também um bem de consumo que pode ser utilizado e deitado fora", sublinhou o papa.
Inversamente, "a solidariedade, que é o tesouro do pobre, é considerada contraprodutiva, contrária à racionalidade financeira e económica", acrescentou Francisco, lamentando as desigualdades crescentes entre os mais ricos e os mais pobres.
Para o papa, isto deve-se "a ideologias promotoras da autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, que negam o direito de controlo dos Estados".
A esta crítica ao liberalismo forçado, o papa acrescentou uma denúncia "da corrupção tentacular e uma evasão fiscal egoísta que tomaram dimensões mundiais".
"Tal como a solidariedade, a ética incómoda! É vista como contraprodutiva (...) uma ameaça, porque recusa a manipulação e a submissão da pessoa", sublinhou.
O pontífice destacou o papel da Igreja para "encorajar os governantes a estarem ao serviço do bem comum das suas populações" e "os dirigentes das entidades financeiras a ter em conta a ética e a solidariedade".
Francisco desejou "uma mudança corajosa de atitude" dos responsáveis políticos e económicos.
"O dinheiro deve servir, não governar", sublinhou e considerou que apesar "do papa amar toda a gente, ricos e pobres", tem "o dever de lembrar ao rico que deve ajudar, respeitar e promover o pobre".