"Acolher Cristo nos refugiados e nas pessoas deslocadas à força": esse é o título do documento apresentado na manhã desta quinta-feira na Sala de Imprensa da Santa Sé para delinear as novas orientações pastorais da Igreja voltadas a enfrentar as necessidades dos fluxos migratórios, que aumentaram e se transformaram no tempo.
O encontro com os jornalistas foi conduzido pelo presidente do Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, Cardeal Antonio Maria Vegliò, e pelo presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, Cardeal Robert Sarah. De fato, os dois dicastérios redigiram conjuntamente o interessante estudo, que convida à reflexão e à acção.
Dezenas de milhões de pessoas no mundo esperavam este documento que actualiza o mapa das migrações forçadas, solicita respostas urgentes, denuncia a falta de vontade política e a ineficácia de políticas migratórias baseadas na rejeição dos imigrantes e defesa das fronteiras inculcando medo no estrangeiro, ao invés de olhar para as pessoas e as suas necessidades, observou o Cardeal Vegliò:
"As razões que obrigam homens e mulheres a deixar suas casas são muito diversificadas. A isso corresponde o aumento das restrições de muitos governos nesta matéria e, não raramente, também um certo enrijecimento da opinião pública."
Não existem estatísticas totalmente confiáveis, acrescentou o purpurado, mas se estima que ao menos 100 milhões de pessoas tenham deixado suas casas contra a própria vontade ou tenham sido obrigadas a permanecer no exílio; são 16 milhões de refugiados no exterior, mais 28 milhões de deslocados em seu próprio país por causa de conflitos, e mais outros 15 milhões para deixar seu lugar a projectos de desenvolvimento, como, por exemplo, a construção de uma barragem; 12 milhões de apátridas sem nenhuma cidadania e direito assegurado. Entre os dramas mais difusos encontra-se o tráfico de pessoas:
"O tráfico de seres humanos é uma chaga vergonhosa que deve ser condenada com firmeza e debelada pelas sociedades que se dizem civis."
"Mulheres, homens e crianças" vergonhosamente desfrutados e privados de toda decisão sobre o destino e sobre a sua vida:
"Além da chamada 'indústria do sexo', devemos mencionar ao menos o trabalho forçado em vários sectores, o tráfico de órgãos para transplante, a redução à escravidão para mendigar e o recrutamento de crianças nos conflitos armados."
"É mais do que nunca urgente e oportuna – concluiu o presidente do Pontifício Conselho para os Migrantes e os Itinerantes – a sinergia de esforços concertados" para oferecer toda ajuda possível" "às pessoas deslocadas à força".
E nos muitos irmãos e irmãs, em muitas partes do Planeta, atingidas pelo drama dos deslocados forçados, como está acontecendo na Síria por causa da guerra, o Cardeal Sarah convidou a notar o rosto de Cristo:
"É o rosto dos 4 milhões de deslocados sírios que, além de viverem o drama de ter perdido tudo, correm o risco de ser estrangeiro no próprio país; o rosto dos mais 2 milhões de refugiados nos vários países limítrofes, que continuam aumentando e que sempre mais decidem enfrentar o perigo de uma viagem da esperança para a Europa."