O arcebispo Óscar Romero (1917-1980), que o Papa Francisco reconheceu como “mártir”, foi hoje proclamado beato numa cerimónia que reuniu centenas de milhares de pessoas na Praça do Divino Salvador do Mundo, em El Salvador.
A Missa foi presidida pelo cardeal Ângelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, com a participação de vários chefes de Estado e de Governo, para além dos vice-presidentes de Cuba e Costa Rica.
O cardeal italiano leu a carta apostólica em latim com que o Papa Francisco proclama o Beato Óscar Romero, “bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heroica do Reino de Deus, reino de justiça, fraternidade e paz”.
Após a proclamação oficial, a carta foi lida em espanhol e foi levada ao altar a relíquia: a camisa ensanguentada do dia em que o arcebispo foi assassinado.
Dom Óscar Romero foi morto a 24 de março de 1980, num contexto de forte tensão política em El Salvador, onde se opunha às medidas repressivas tomadas pelos militares.
O processo de beatificação chegou ao Vaticano em 1997, tendo ficado parado durante vários anos; foi Bento XVI, agora Papa emérito, a desbloquear a causa, em dezembro de 2012.
A beatificação acontece depois de o Papa Francisco ter autorizado a 3 de fevereiro deste ano a publicação do decreto que reconhecia o martírio de Dom Óscar Romero.
Óscar Arnulfo Romero nasceu em agosto de 1917 em Ciudad Barrios (El Salvador), numa família de modestos recursos; aos 14 anos, entrou no seminário, mas seis anos depois afastou-se para ajudar a família e passou a trabalhar nas minas de ouro, com os irmãos.
Após retomar os estudos, foi enviado a Roma para estudar Teologia e foi ordenado sacerdote em 1942, altura em que regressa a El Salvador e assume uma paróquia do interior, seguindo depois para a Catedral de San Miguel, onde fica durante 20 anos.
Em 1970 foi nomeado pelo Papa Paulo VI como bispo auxiliar de São Salvador; em 1974 foi escolhido para dirigir a diocese de Santiago de Maria, no meio de um contexto político de forte repressão.
Um ano depois, a Guarda Nacional executou cinco camponeses e Dom Óscar Romero celebrou uma Missa pelas vítimas.
Em 1977, D. Óscar Romero é nomeado arcebispo de San Salvador e, pouco tempo depois, é assassinado o padre jesuíta Rutílio Grande, de quem era muito próximo.
Segundo os seus biógrafos, este é o momento em que o arcebispo se assume como voz dos oprimidos, denunciando a repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e económicos.
Após o golpe de Estado de 1979, a junta que assume o poder promove o assassínio de centenas de civis, entre eles sacerdotes, e a guerrilha responde com execuções sumárias.
A 24 de março de 1980, Dom Óscar Romero foi assassinado por um franco-atirador, enquanto presidia à Missa na capela do Hospital da Divina Providência, em São Salvador; esta será a data da memória litúrgica do novo beato.
O rito de beatificação constitui a penúltima etapa para a canonização, mediante a qual um cristão é declarado santo e se alarga a sua veneração a todas as nações e congregações religiosas.
Simbolicamente, durante a apresentação dos dons, o ofertório inclui um livro com os Acordos de Paz de El Salvador, que puseram fim à guerra civil de 1980 a 1992 no país centro-americano.