O bispo da Diocese de Maradi, no Níger, revelou que os surtos de violência contra os cristãos são “incompreensíveis” e embora os católicos tenham medo, as paróquias estão muito ativas e há empenho na cooperação com os muçulmanos.
"Por que nos atacaram, se nos entendemos tão bem? Confundiram «Charlie Hebdo» com cristianismo, os cristãos no Níger são vítimas colaterais”, comentou D. Ambroise Ouédraogo sobre os ataques sofridos depois das publicações do jornal satírico francês em janeiro de 2015.
Na sede da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre(AIS), na Alemanha, o prelado explica que as igrejas foram “queimadas e saqueadas” porque consideram que foram os cristãos que fizeram as caricaturas do profeta Maomé.
"Eles queimaram as nossas igrejas mas ainda temos amor por eles. Cristãos ou muçulmanos, Deus quer a felicidade para todas as pessoas”, acrescentou, assinalando que muitos muçulmanos ainda não sabem como se relacionar com os cristãos depois dos ataques.
O responsável católico contextualizou que existiram “tumultos violentos contra cristãos e igrejas cristãs” em Niamey, a capital do Níger, e na segunda maior cidade do país africano, Zinder onde se situa a Diocese de Maradi, ocasião em que fugiram cerca de 200 cristãos para países vizinhos Burkina Faso, Togo, Benin e Nigéria.
“Eles tornaram-se comunidades vivas e acho que isso é uma graça”, acrescenta D. Ambroise Ouédraogo sobre a comunidade católica que celebram a Eucaristia ao ar livre ou em locais que preparam e são decorados por eles.
D. Ambroise Ouédraogo destacou a cooperação que continua a existir com os muçulmanos na área da educação, através da Cáritas do Níger, e disse que “não é hora de acusar ninguém”.
“A liberdade de imprensa na Europa é maravilhosa mas temos de a tratar com cuidado e estar cientes do impacto sobre outros países. A Europa não é a África e a África não é a Europa, as sensibilidades são diferentes”, desenvolveu ainda o bispo da Diocese de Maradi num comunicado enviado à Agência ECCLESIA pela AIS.
A República do Níger é um Estado islâmico com 17 milhões de habitantes onde 98 por cento professam o Islão e existe uma pequena comunidade católica de cerca de 21 mil fiéis em duas dioceses.
A fundação pontifícia AIS informa ainda que contribuiu com mais de “83 mil euros para o trabalho pastoral” que ajudou também para o aumento de um convento e a construção de uma igreja destruída em janeiro.