Os sinos da alegria tocam a rebate no céu e na terra porque a Igreja já tem mais um santo: S. Junipero Serra, evangelizador da Califórnia. O canto do Veni Creator Spiritus deu início ao rito de canonização, depois foi lida a biografia do novo santo pelo postulador e a Litania dos Santos antecedeu o pronunciamento da fórmula pelo Santo Padre.
Junto ao Santuário Nacional da imaculada Conceição em Washington estiveram cerca de 40 mil fiéis que acolheram o Papa com grande alegria. Presentes os bispos norte-americanos, uma delegação da Califórnia, vinte nativos americanos, muitos religiosos e religiosas e ainda cerca de 4 mil seminaristas.
O franciscano Junipero Serra nasceu em 1713 e faleceu em 1784. Foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 1988. Espanhol de Maiorca ordenou-se em 1737 e nas missões em que esteve na América desenvolveu importante ação junto dos grupos indígenas. Aprendeu a língua Pame e traduziu nesse idioma orações e doutrina cristã. Segundo a biografia divulgada pela Santa Sé nesta viagem o novo santo esteve, muitas vezes, em desacordo com as autoridades sobre a maneira como eram tratados os nativos.
Na sua homilia, pronunciada em espanhol, o Papa Francisco referiu-se a S. Junipero como um missionário da alegria do Evangelho e de uma “Igreja em saída”:
“E hoje recordamos uma daquelas testemunhas que souberam testemunhar nestas terras a alegria do Evangelho: padre Junípero Serra soube viver aquilo que é ‘a Igreja em saída’, esta Igreja que sabe sair e ir pelas estradas, para partilhar a ternura reconciliadora de Deus.”
O Santo Padre abordou na sua homilia o valor da missão, afirmando que o espírito do mundo convida-nos ao “conformismo” e à “comodidade”, mas Jesus disse aos seus discípulos e “repete-o a nós hoje: Ide! Anunciai! A alegria do Evangelho só se experimenta, conhece e vive, dando-a, dando-se” – declarou o Papa, afirmando que “a missão nunca nasce dum projeto perfeitamente elaborado ou dum manual bem estruturado e programado; a missão nasce sempre duma vida que se sentiu procurada e curada, encontrada e perdoada. A missão nasce de se fazer uma, duas e mais vezes a experiência da unção misericordiosa de Deus. E o Papa recordou a herança missionária dos que nos precederam na fé:
“Hoje encontramo-nos aqui, podemos estar aqui, porque houve muitos que tiveram a coragem de responder a este chamamento; muitos que acreditaram que «na doação a vida fortalece, e enfraquece no comodismo e no isolamento» (Documento de Aparecida, 360). Somos filhos da ousadia missionária de muitos que preferiram não se fechar «nas estruturas que nos dão uma falsa proteção (...), nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 49). Somos devedores duma Tradição, duma cadeia de testemunhas que tornaram possível que a Boa Nova do Evangelho continue a ser, de geração em geração, Nova e Boa.”
O Padre Junipero Serra “soube deixar a sua terra, os seus costumes, teve a coragem de abrir sendas, soube ir ao encontro de muitos aprendendo a respeitar os seus costumes e as suas características” – referiu o Papa realçando que este novo santo “aprendeu a gerar e acompanhar a vida de Deus nos rostos daqueles que encontrava, tornando-os seus irmãos. Junípero procurou defender a dignidade da comunidade nativa, protegendo-a de todos aqueles que abusaram dela; abusos que hoje continuam a encher-nos de pesar, especialmente pela dor que provocam na vida de tantas pessoas.” S. Junipero Serra escolheu um lema – disse o Papa na conclusão da sua homilia: “Sempre avante”:
“Teve um lema que inspirou os seus passos e plasmou a sua vida: Soube-o dizer mas sobretudo viver: “Sempre avante”. Esta foi a maneira que Junípero encontrou para viver a alegria do Evangelho, para que não se anestesiasse o seu coração. Foi sempre avante, porque o Senhor espera; sempre avante, porque o irmão espera; sempre avante por tudo aquilo que ainda tinha para viver; foi sempre avante. Como ele então, possamos também nós hoje dizer: sempre avante.”