O Papa Francisco foi nesta Quarta-feira anunciado como vencedor do prémio internacional «Carlos Magno» pela paz de 2016, distinção que vem distinguir os seus esforços em favor das populações atingidas pela guerra e as injustiças sociais e económicas.
Esta distinção, considerada como uma das mais importantes na Europa, tinha sido outorgada ao Papa João Paulo II, em 2004.
O prémio foi estabelecido em 1949, quando a cidade alemã se encontrava em ruínas, após a II Guerra Mundial, e destina-se a pessoas e instituições que tenham um papel importante no processo de unificação da Europa.
O comité elogia a figura de Francisco como uma “voz da consciência” e uma "autoridade moral extraordinária" para a Europa, com uma mensagem de “esperança e encorajamento” em tempos de crise.
Nesse sentido, evoca-se em particular o discurso do Papa perante o Parlamento Europeu, a 25 de novembro de 2014, em Estrasburgo, França.
Francisco disse então que "a Europa tem uma necessidade imensa de redescobrir o seu rosto para crescer, segundo o espírito dos seus pais fundadores, na paz e na concórdia, já que ela mesma não está ainda isenta dos conflitos”.
Em pouco mais de mil dias de pontificado, o Papa Francisco deixou atrás vários gestos e mensagens de paz, como o inédito encontro de oração que reuniu os presidentes de Israel e da Palestina, a 8 de junho de2014, marcada por uma oração: “«Nunca mais a guerra»; «com a guerra, tudo fica destruído»”.
“Para fazer a paz é preciso coragem, muita mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não ao confronto; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades; sim ao respeito dos pactos e não às provocações", referiu o Papa.
Em setembro de 2013, Francisco assumiu a iniciativa de escrever ao presidente russo, Vladimir Putin, antes de uma cimeira do G20 em que se previa o envio de tropas para o conflito na Síria, algo que veio a não acontecer.
“A todos eles [líderes do G20], e a cada um deles, dirijo um sentido apelo para que ajudem a encontrar caminhos para superar as diversas contraposições e abandonem qualquer vã pretensão de uma solução militar”, escreveu.
A primeira viagem do pontificado teve como paragem a ilha italiana de Lampedusa, onde deixou um apelo contra a ‘globalização da indiferença’, lembrando quem morre no Mediterrâneo.
Vários foram os apelos em defesa dos refugiados, em favor da paz na Ucrânia e os alertas para a situação dos cristãos no Médio Oriente, com o Papa a admitir o uso da força para travar os jihadistas do Estado Islâmico, uma decisão que teria de ser tomada pela ONU.
O pontificado contou também com várias mensagens condenando a ação da Mafia na Itália, o tráfico de seres humanos, a fome ou os crimes e abusos contra menores.
O pensamento de Francisco sobre todos estes temas está condensado nas suas mensagens para o Dia Mundial da Paz, que a Igreja celebra anualmente a 1 de janeiro.
“Desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão”, acrescentou, escreveu, no primeiro texto que assinou para esta celebração, um apelo que tem vindo a repetir sistematicamente.
O Papa denunciou as consequências da “tragédia da exploração do trabalho” e das “guerras" económico-financeiras, que lançam na pobreza “milhões de homens e mulheres”.
No centenário da I Guerra Mundial, em 2014 Francisco esteve no maior cemitério militar da Itália para afirmar que “a guerra é uma loucura”.
Já na sua mensagem para o 49.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2016), Francisco critica as consequências do esquecimento de Deus nas relações entre os seres humanos e na natureza.
O Papa deixou um “triplo apelo” aos responsáveis políticos: que não arrastem “outros povos para conflitos ou guerras”; a “eliminação ou gestão sustentável da dívida”; a “adoção de políticas de cooperação que, em vez de submeter à ditadura dalgumas ideologias, sejam respeitadoras dos valores das populações locais”.